Eficácia do Pão Enriquecido com β-Glucana de Aveia no Controle Glicêmico em Adultos com Risco de Diabetes Tipo 2: Um Ensaio Clínico Randomizado


O estudo intitulado Effectiveness of Regular Oat β-Glucan Enriched Bread Compared to Whole Grain Wheat Bread on Long-Term Glycemic Control in Adults at Risk of Type 2 Diabetes: A Randomized Controlled Trial, publicado no The American Journal of Clinical Nutrition, investigou se o consumo diário de pão enriquecido com β-glucana de aveia poderia melhorar o controle glicêmico em adultos com risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação com o pão integral de trigo. A pesquisa foi realizada por um consórcio europeu e registrada em ClinicalTrials.gov (NCT04994327).

Contexto do Estudo

O consumo elevado de grãos integrais e fibras alimentares está associado a menor risco de doenças crônicas como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Em especial, as β-glucanas, fibras solúveis presentes na aveia e na cevada, já demonstraram reduzir os níveis de colesterol e as respostas glicêmicas pós-prandiais em estudos controlados. Contudo, faltavam evidências sobre a efetividade dessas fibras em condições reais de consumo.

Objetivo

Avaliar se a ingestão de pão enriquecido com β-glucana de aveia, em condições de vida real, poderia melhorar a hemoglobina glicada (HbA1c) e outros indicadores de controle glicêmico em adultos com risco aumentado de diabetes tipo 2, em comparação ao pão integral de trigo.

Metodologia

O ensaio clínico randomizado, duplo-cego e multicêntrico, teve duração de 16 semanas e contou com 194 participantes (idade média 58 anos; IMC médio 32 kg/m²; HbA1c média 5,6%). Os voluntários consumiram pelo menos três fatias diárias do pão designado (enriquecido com β-glucana ou controle), em seis dias da semana, mantendo suas dietas e níveis de atividade habituais. O pão de aveia forneceu aproximadamente 6 g de β-glucana por dia, enquanto o pão de trigo continha quantidades insignificantes.

Resultados

Os resultados principais indicaram que:

  • Não houve diferença significativa entre os grupos quanto à HbA1c ao final do estudo (variação: -0,01%; IC 95%: -0,03 a 0,06; p = 0,49).
  • Fatores secundários como glicemia de jejum, insulina, HOMA-IR, perfil lipídico e índices de esteatose hepática também não apresentaram diferenças significativas entre os grupos.
  • Aceitação do pão: o pão de β-glucana foi bem aceito e relatado como mais saciante em comparação ao pão de trigo, mas isso não se traduziu em diferenças nos desfechos clínicos.

Discussão

Os autores ressaltam que os benefícios observados em estudos controlados com β-glucanas podem não se reproduzir em situações de vida real, onde a adesão e o padrão de consumo são mais variáveis. O estudo sugere que a simples substituição do pão habitual pelo pão enriquecido, sem orientação específica sobre momento e quantidade das refeições, pode ser insuficiente para gerar benefícios metabólicos mensuráveis.

Além disso, a população estudada apresentava perfil metabólico relativamente saudável, o que pode ter limitado a possibilidade de observar efeitos clínicos significativos. O estudo reforça a necessidade de futuras pesquisas que considerem estratégias de adesão e o contexto alimentar para potencializar os efeitos de intervenções com β-glucanas.

Conclusão

O ensaio mostrou que o consumo diário de pão enriquecido com β-glucana de aveia não resultou em melhorias significativas no controle glicêmico de adultos com risco elevado de diabetes tipo 2, quando comparado ao consumo de pão integral de trigo. Os achados destacam os desafios na tradução dos efeitos observados em estudos de eficácia para a prática diária.


Fonte: https://doi.org/10.1016/j.ajcnut.2025.06.018

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