Eficácia do Pão Enriquecido com β-Glucana de Aveia no Controle Glicêmico em Adultos com Risco de Diabetes Tipo 2: Um Ensaio Clínico Randomizado


O estudo conduzido por Hjorth e colaboradores, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, teve como objetivo avaliar se o consumo diário de pão enriquecido com β-glucana de aveia, em comparação com pão integral de trigo, seria eficaz para melhorar o controle glicêmico em adultos com risco aumentado de diabetes tipo 2. A intervenção ocorreu durante 16 semanas, envolvendo adultos com índice de massa corporal médio de 32 kg/m² e hemoglobina glicada (HbA1c) em torno de 5,6%, faixa que caracteriza risco elevado, mas sem diagnóstico formal de diabetes.

Logo no início, já se esperava que a presença de fibras solúveis como a β-glucana pudesse reduzir a glicemia pós-prandial e o colesterol LDL, benefícios respaldados por alegações autorizadas pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA). Entretanto, os resultados do estudo foram claros: não houve diferenças significativas entre os grupos em termos de HbA1c, glicemia de jejum, insulina, perfil lipídico ou até mesmo composição corporal.

Isso revela uma limitação prática preocupante: substituir um pão comum por um pão “funcional” ou “enriquecido” não promoveu melhorias reais no metabolismo dos participantes em um contexto de vida real, mesmo quando este alimento era consumido de forma regular e em quantidade suficiente para atingir o teor de β-glucana recomendado.

Do ponto de vista metabólico, os pontos negativos se destacam:

  • Falta de efeito no controle glicêmico: O principal objetivo era reduzir a hemoglobina glicada (HbA1c), mas o grupo que consumiu o pão enriquecido não apresentou melhora significativa em comparação ao grupo controle. Isto sugere que, na prática cotidiana, o suposto benefício desse tipo de pão simplesmente não acontece.
  • Inexistência de impacto no colesterol LDL: Apesar das alegações sobre a redução de colesterol associada à β-glucana, este estudo não observou redução significativa, mesmo em indivíduos de maior risco metabólico.
  • Sem efeitos na composição corporal: Nem peso, nem gordura corporal foram alterados de maneira significativa após 16 semanas, mostrando que este tipo de alimento não contribui para a redução de peso ou melhora da composição corporal.
  • Pão continua sendo uma fonte relevante de carboidrato: Mesmo com a redução da proporção de carboidratos na dieta relatada pelos participantes, os valores absolutos continuaram elevados (145-148 g/dia ao final do estudo). Isso indica que a inclusão de pão, independentemente do tipo, perpetua uma dieta relativamente rica em carboidratos, o que pode dificultar ainda mais o controle glicêmico e insulinêmico em indivíduos de risco.
  • Possível aumento calórico: Durante o estudo, o consumo energético diário aumentou em ambos os grupos, reforçando que o pão, mesmo quando “enriquecido”, pode estimular maior ingestão calórica.

    Diante desses resultados, fica evidente que o consumo de pão — mesmo de versões “enriquecidas” ou “integrais” — não parece trazer benefício metabólico significativo para pessoas em risco de diabetes tipo 2. Ao contrário, a manutenção do pão na dieta pode perpetuar padrões alimentares que favorecem um aporte elevado de carboidratos e energia, sem resultados concretos na melhora de marcadores como HbA1c, glicose de jejum ou perfil lipídico.

    Por isso, a conclusão prática sugerida é clara: o melhor seria evitar o pão, independentemente do tipo, como estratégia para melhorar ou preservar a saúde metabólica, especialmente entre indivíduos com risco elevado de diabetes. Isso pode permitir um ajuste alimentar mais eficaz, reduzindo a carga de carboidratos da dieta de forma mais significativa e abrindo espaço para alimentos mais nutritivos e metabolicamente favoráveis.

    Fonte: https://doi.org/10.1016/j.ajcnut.2025.06.018

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