Um novo estudo científico comparou dois padrões alimentares amplamente discutidos - a dieta cetogênica e a dieta mediterrânea - para avaliar seus efeitos sobre a pressão arterial em pessoas com sobrepeso ou obesidade. A pesquisa, publicada na revista Nutrients em maio de 2025, trouxe descobertas importantes sobre como diferentes abordagens dietéticas podem influenciar parâmetros cardiovasculares.
O Estudo e Seus Participantes
Os pesquisadores acompanharam 26 adultos caucasianos não diabéticos com obesidade central, atendidos em centros médicos especializados na Itália. Todos os participantes apresentavam sobrepeso ou obesidade (índice de massa corporal superior a 27 kg/m²) e pressão arterial normal-alta ou hipertensão grau I. O estudo durou três meses e utilizou monitoramento ambulatorial da pressão arterial, uma tecnologia que mede a pressão automaticamente ao longo de 24 horas, fornecendo dados mais precisos que as medições tradicionais no consultório médico.
Os participantes foram divididos em dois grupos: 15 pessoas seguiram uma dieta cetogênica hipocalórica rica em proteínas, enquanto 11 adotaram uma dieta mediterrânea hipocalórica com baixo teor de sódio e rica em potássio. A escolha da dieta baseou-se no perfil nutricional e nas preferências pessoais de cada participante, seguindo práticas clínicas estabelecidas.
Características das Dietas Testadas
A dieta cetogênica utilizada no estudo fornecia aproximadamente 1300 calorias diárias, com carboidratos representando apenas 10-15% do total calórico (menos de 50 gramas por dia), gorduras correspondendo a 55-60% e proteínas a 25-30%. O consumo de sódio variou entre 5 e 8 gramas diárias, enquanto o potássio ficou abaixo de 4 gramas.
Por sua vez, a dieta mediterrânea também oferecia 1300 calorias diárias, mas com uma distribuição diferente: carboidratos constituíam 40-50% das calorias, gorduras 35% e proteínas 15-25%. Esta versão da dieta mediterrânea mantinha o consumo de sódio abaixo de 5 gramas diárias e elevava o potássio para 4 gramas.
Resultados Surpreendentes sobre Perda de Peso
Ambas as dietas produziram resultados impressionantes em termos de perda de peso. O grupo da dieta cetogênica perdeu em média 11,3 quilos, reduzindo de 98,6 kg para 87,3 kg. O grupo da dieta mediterrânea perdeu 7,7 quilos em média, passando de 93,8 kg para 86,1 kg. Estas reduções foram estatisticamente significativas e clinicamente relevantes para ambos os grupos.
A análise da composição corporal revelou que ambas as dietas promoveram perda de massa gorda e aumento proporcional da massa magra. Os pesquisadores utilizaram bioimpedância elétrica, um método que mede a composição corporal através da passagem de corrente elétrica pelo organismo, para avaliar com precisão essas mudanças.
Impacto na Pressão Arterial
Os resultados mais significativos relacionaram-se aos efeitos sobre a pressão arterial. A pressão sistólica média de 24 horas diminuiu de 125,0 para 116,1 mmHg, enquanto a pressão diastólica reduziu de 79,0 para 73,7 mmHg quando considerados todos os participantes em conjunto. Essas reduções foram observadas tanto durante o dia quanto durante a noite.
Interessantemente, não houve diferenças significativas entre as duas dietas em relação aos efeitos sobre a pressão arterial média. Ambas as abordagens dietéticas produziram melhorias similares nos parâmetros cardiovasculares. A única diferença notable foi no padrão de variação noturna da pressão arterial: o grupo da dieta cetogênica mostrou melhor preservação da queda fisiológica noturna da pressão arterial, um achado que pode ter implicações importantes para a saúde cardiovascular.
Melhoras Metabólicas Abrangentes
Além dos efeitos sobre peso e pressão arterial, ambas as dietas promoveram melhorias significativas em vários marcadores metabólicos. Os níveis de triglicerídeos diminuíram de 126,0 para 93,7 mg/dL, o colesterol total reduziu de 192,1 para 172,3 mg/dL, e houve melhoras na sensibilidade à insulina, medida através do índice HOMA-IR.
Os pesquisadores identificaram uma correlação interessante: a relação entre a perda de massa gorda e o ganho de massa magra correlacionou-se significativamente com as melhorias na pressão arterial. Esta descoberta sugere que não apenas a quantidade de peso perdido, mas também a qualidade dessa perda - ou seja, a redução específica de gordura corporal - desempenha papel fundamental na regulação da pressão arterial.
Segurança e Tolerabilidade
Ambas as intervenções dietéticas foram bem toleradas pelos participantes, com alta taxa de aderência durante os três meses de acompanhamento. Não foram relatados efeitos adversos significativos ou alterações nos marcadores de função renal, indicando que ambas as abordagens são seguras quando implementadas sob supervisão adequada.
Implicações Clínicas e Limitações
Os resultados sugerem que tanto a dieta cetogênica quanto a mediterrânea podem ser estratégias eficazes para redução da pressão arterial em pessoas com sobrepeso ou obesidade, quando implementadas de forma hipocalórica. A magnitude da redução observada - aproximadamente 9 mmHg na pressão sistólica - é clinicamente significativa e comparável aos efeitos de alguns medicamentos anti-hipertensivos.
O estudo possui algumas limitações importantes que devem ser consideradas. O tamanho amostral foi relativamente pequeno (26 participantes), o período de acompanhamento foi de apenas três meses, e não houve grupo controle. Além disso, a pesquisa foi configurada como estudo piloto com dados preliminares, uma vez que não existe comparação direta entre essas duas dietas na literatura científica.
Perspectivas Futuras
Os pesquisadores enfatizam que estudos futuros com amostras maiores, acompanhamento mais prolongado e desenho randomizado controlado são necessários para validar essas descobertas e avaliar a durabilidade dos efeitos observados. Se estes dados forem confirmados em ensaios clínicos com populações mais amplas, futuras diretrizes sobre tratamento de pressão arterial elevada e manejo da hipertensão poderão considerar essas evidências sobre estilo de vida.
Mensagem Principal para o Público
Este estudo reforça a importância da perda de peso supervisionada como estratégia fundamental para controle da pressão arterial em pessoas com sobrepeso ou obesidade. Os resultados sugerem que diferentes abordagens dietéticas podem ser igualmente eficazes, desde que promovam perda de peso significativa e melhoria na composição corporal. O estudo destaca a importância da perda de peso e da melhoria associada na composição corporal, independentemente do método empregado para alcançá-la, conferindo benefícios abrangentes em todo o perfil cardiometabólico.
A escolha entre diferentes estratégias dietéticas pode ser individualizada com base nas preferências pessoais e no perfil clínico de cada pessoa, sempre sob orientação profissional adequada. O mais importante é a adesão à intervenção escolhida e o acompanhamento médico regular para monitoramento dos resultados e segurança.