A síndrome metabólica (SM) representa um conjunto de fatores de risco metabólicos que, quando presentes em conjunto, aumentam substancialmente o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Esses fatores incluem obesidade central, hipertensão, dislipidemia aterogênica, resistência à insulina e estados pró-inflamatórios. Com o aumento expressivo da prevalência de SM em escala global, especialmente em adultos, cresce também a busca por intervenções dietéticas eficazes.
Neste contexto, a revisão sistemática e meta-análise conduzida por Qi Zheng e colaboradores, publicada no International Journal of Obesity em 2025, avaliou os efeitos de dietas com restrição de carboidratos (low-carbohydrate diets — LCD) em indivíduos adultos com síndrome metabólica. A análise reuniu dados de 30 ensaios clínicos randomizados de alta e moderada qualidade, totalizando 3.806 participantes, com intervenções de no mínimo 12 semanas de duração.
Critérios de definição e metodologia
A definição de LCD adotada neste trabalho incluiu dietas com 50–130g de carboidratos por dia, ou entre 10% a 40% das calorias totais em uma dieta de 2.000 kcal/dia. Foram excluídas intervenções mais extremas (como dietas cetogênicas abaixo de 20g de carboidrato/dia), focando-se em níveis que ainda se enquadram em dietas de restrição moderada. A metodologia seguiu os critérios PRISMA, com registro prévio no PROSPERO (CRD42023477444), e análise de risco de viés pelo manual Cochrane.
Principais achados da meta-análise
Os efeitos das dietas com restrição de carboidratos, quando comparadas a dietas controle (sem essa restrição), foram os seguintes:
- Peso corporal: redução média de −1,79 kg
- Índice de massa corporal (IMC): redução de −0,43 kg/m²
- Circunferência da cintura: redução de −0,77 cm
- Pressão arterial sistólica: −1,19 mmHg
- Pressão arterial diastólica: −1,49 mmHg
- Glicemia de jejum: −0,60 mmol/L
- Hemoglobina glicada (HbA1c): −0,62%
- Triglicerídeos: −0,24 mmol/L
- HDL-C (lipoproteína de alta densidade): aumento de +0,06 mmol/L
- LDL-C e colesterol total (TC): sem alterações significativas
- Proteína C-reativa (PCR) e Interleucina-6 (IL-6): sem mudanças relevantes
Heterogeneidade e análise por subgrupos
O estudo revelou heterogeneidade significativa em alguns desfechos, especialmente na glicemia (I² = 93%) e HbA1c (I² = 92%), sugerindo variações entre os estudos incluídos. A análise por subgrupos mostrou que intervenções com menor proporção de carboidratos (≤25% das calorias) tendem a gerar maior perda de peso e melhora de HDL-C, sugerindo um efeito dose-dependente.
- Peso: maior perda com ≤25% de carboidratos (−2,84 kg vs. −1,43 kg)
- Glicemia: redução mais intensa com ≤25% de carboidratos (−1,02 vs −0,53 mmol/L)
- HDL-C: maior aumento com ≤25% de carboidratos (+0,11 vs +0,04 mmol/L)
Limitações reconhecidas
Os autores destacaram que, embora a maioria dos estudos incluídos fosse de boa qualidade, existiram limitações relevantes:
- Participantes com diabetes tipo 2 usando medicações, o que pode interferir nos desfechos glicêmicos;
- Variações nos níveis de adesão à dieta e nos períodos de intervenção;
- Possível viés de publicação, identificado em desfechos como glicemia, HbA1c e IL-6;
- Falta de padronização na avaliação da atividade física;
- Predomínio de estudos conduzidos em países ocidentais, dificultando a extrapolação dos resultados para populações mais diversas.
Conclusão
As evidências reunidas indicam que dietas com restrição de carboidratos, definidas como 50–130g/dia ou 10–40% das calorias diárias, são eficazes para melhorar diversos marcadores da síndrome metabólica em adultos, incluindo peso corporal, glicemia, pressão arterial e perfil lipídico (HDL-C e triglicerídeos). No entanto, os autores recomendam cautela na interpretação dos resultados devido à heterogeneidade dos dados e destacam a necessidade de estudos futuros que explorem o período ideal de intervenção, com maior controle sobre fatores de confusão e melhor avaliação da adesão.
Estas conclusões reforçam o potencial clínico de estratégias alimentares com redução de carboidratos como ferramenta no manejo da síndrome metabólica, mas indicam que a personalização e o acompanhamento clínico são essenciais para alcançar resultados duradouros e seguros.
Fonte: https://doi.org/10.1038/s41366-025-01822-5
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