Tumor pulmonar tratado com sucesso com dieta carnívora: relato de caso e implicações clínicas


A literatura científica apresenta evidências crescentes sobre os benefícios das dietas cetogênicas em diversas condições patológicas, incluindo doenças neurológicas e metabólicas. Mais recentemente, investigações teóricas e estudos de caso têm apontado seu potencial terapêutico no manejo de tumores, com destaque para a abordagem conhecida como dieta cetogênica paleolítica — uma variante que restringe exclusivamente a alimentos de origem animal.

Neste contexto, o estudo conduzido por Tóth e Clemens apresenta um relato notável: o caso de uma paciente com tumor bronquial, tratada com sucesso utilizando exclusivamente a dieta paleolítica cetogênica (PKD). Trata-se do primeiro registro de regressão de um tumor pulmonar associado à adoção dessa abordagem alimentar.

Histórico clínico da paciente

A paciente, de 58 anos, apresentava sintomas respiratórios graves como dispneia, tosse persistente e dor torácica, que a impediam de trabalhar como professora de canto. Seu histórico incluía lobectomia direita por carcinoma bronquioloalveolar em 2003, mioma uterino com histerectomia em 2005, colecistectomia em 2006 e bócio nodular em 2013. Ela não fumava e não consumia álcool.

Em dezembro de 2013, exames de imagem identificaram uma massa pleiomórfica de 5 cm obstruindo parcialmente o brônquio principal direito. A biópsia confirmou adenocarcinoma pulmonar não pequenas células (NSCLC), com estadiamento T1,N0,M0. Diante da inoperabilidade do tumor, a paciente iniciou a dieta paleolítica cetogênica em janeiro de 2014.

A intervenção dietética

A dieta consistiu exclusivamente de carne, vísceras, ovos e gordura animal, com proporção de gordura:proteína de pelo menos 2:1 (em peso). Alimentos vegetais, laticínios, óleos vegetais e aditivos foram completamente excluídos. A paciente consumia apenas um café por dia, com pequena quantidade de mel. Também utilizava vitamina D3 (10.000 UI/dia), sem outros suplementos. O estado de cetose foi monitorado regularmente, com confirmação laboratorial em cinco de sete medições.

Logo após o início da dieta, todos os sete medicamentos de uso contínuo foram suspensos, mantendo-se apenas nebivolol por duas semanas. A paciente também passou por quatro ciclos de quimioterapia entre janeiro e abril de 2014, mas decidiu interrompê-los devido a efeitos colaterais.

Resultados clínicos e laboratoriais

A partir de março de 2014, exames de imagem revelaram regressão progressiva do tumor, aumento do lúmen brônquico e ausência de metástases. Ao longo de 10 meses, a paciente perdeu 20 kg (de 78 kg para 58 kg), e seu índice de massa corporal passou de 30,5 para 22,6.

Parâmetros laboratoriais, como glicemia e perfil lipídico, permaneceram dentro da faixa de normalidade durante toda a intervenção. As alterações hematológicas observadas durante a quimioterapia (leucopenia e anemia) se normalizaram após sua suspensão. A taxa de sedimentação de eritrócitos (ESR), inicialmente elevada, também se normalizou.

Notavelmente, a paciente relatou melhora significativa dos sintomas respiratórios já no primeiro mês de dieta, com remissão completa em seis meses. A pressão arterial manteve-se estável mesmo sem medicamentos, e não foram relatados efeitos colaterais gastrointestinais — um aspecto relevante, considerando que a paciente era colecistectomizada. Em setembro de 2014, ela retomou suas atividades profissionais com melhora substancial da qualidade de vida.

Discussão

Este caso representa uma evidência singular do potencial terapêutico da dieta paleolítica cetogênica em neoplasias pulmonares. Embora a literatura apresente registros positivos do uso da dieta cetogênica clássica em tumores cerebrais e glioblastomas, os resultados ainda são limitados, e há ceticismo generalizado por parte da comunidade oncológica quanto ao impacto clínico da dieta isoladamente.

A hipótese central do estudo repousa na visão metabólica do câncer, conforme proposta por Otto Warburg e retomada por Seyfried: tumores seriam consequência de disfunções mitocondriais que forçam as células cancerígenas a dependerem majoritariamente da glicose como fonte energética, sendo incapazes de metabolizar corpos cetônicos. Assim, a cetose nutricional imposta por dietas cetogênicas restringiria a principal via de fornecimento energético aos tumores.

Adicionalmente, a dieta paleolítica cetogênica propõe vantagens sobre a cetogênica clássica ao eliminar completamente alimentos modernos introduzidos após o advento da agricultura — como grãos, leguminosas, óleos vegetais e aditivos —, considerados pró-inflamatórios e potencialmente promotores de crescimento tumoral.

A regressão tumoral observada neste caso, associada à melhora clínica global e à normalização de parâmetros laboratoriais sem uso de medicamentos, reforça a hipótese de que estratégias nutricionais com base evolutiva podem desempenhar papel relevante no controle do câncer. Embora o acompanhamento ainda seja limitado a 10 meses, os resultados são promissores e sugerem a necessidade de mais estudos clínicos rigorosos para avaliar o papel da dieta paleolítica cetogênica no tratamento oncológico.

Fonte: https://paleomedicina.com/en/bronchial_tumor_paleolithic_ketogenic_diet_PKD

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