Impacto da idade na duração do sono e nos desfechos de saúde: Evidências de quatro grandes estudos de coorte


A relação entre a duração do sono e a saúde sempre despertou o interesse da comunidade científica. Dormir pouco está associado a diversos riscos metabólicos e cardiovasculares. Dormir demais, por outro lado, também pode trazer consequências. Mas será que essa relação é igual para todas as faixas etárias? Um estudo recente publicado na revista Sleep Medicine investigou essa questão usando dados de quatro grandes coortes populacionais representando os Estados Unidos, Europa e China.

Estrutura do estudo

A pesquisa utilizou dados de mais de 125 mil participantes oriundos de quatro estudos nacionais: NHANES (EUA), SHARE (Europa), CHARLS (China) e CLHLS (China). A duração do sono foi autorrelatada pelos participantes e agrupada em faixas (≤5h, 6h, 7h, 8h, ≥9h). Os pesquisadores analisaram a associação entre essas faixas e a mortalidade por todas as causas, utilizando modelos estatísticos robustos como curvas de Kaplan-Meier e regressão de Cox.

Os participantes foram estratificados por faixa etária com base em critérios da Organização Mundial da Saúde: adultos (18–44 anos), meia-idade (45–59 anos), idosos (60–89 anos) e longevos (≥90 anos).

Resultados principais

A análise revelou que a relação entre sono e mortalidade varia de acordo com a idade:

  • Adultos (18–44 anos): O maior risco de mortalidade foi observado entre aqueles que dormiam 5 horas ou menos. Nessa faixa etária, dormir pouco foi mais prejudicial do que dormir demais (HR ≤5h: 2,95; HR ≥9h: 1,83).
  • Meia-idade (45–59 anos): A associação seguiu um padrão em “U”, com riscos aumentados tanto para curta quanto longa duração do sono.
  • Idosos e longevos (≥60 anos): Ao contrário das faixas mais jovens, dormir por longos períodos (≥9h) esteve mais fortemente associado à mortalidade do que o sono curto. Em várias análises, o risco de mortalidade por longas horas de sono superava aquele associado ao sono insuficiente.

De forma geral, o padrão observado foi:

  • Padrão em "J inverso" para adultos: risco maior com sono curto;
  • Padrão em "U" na meia-idade;
  • Padrão em "J" em idosos e longevos: risco maior com sono prolongado.

Considerações sobre o gênero

Embora algumas meta-análises anteriores tenham apontado diferenças entre homens e mulheres na relação entre sono e mortalidade, este estudo não encontrou diferenças significativas entre os sexos. No entanto, tendências específicas foram observadas, como maior risco para homens nos EUA e para mulheres na China, o que pode refletir fatores culturais ou regionais.

Possíveis explicações fisiopatológicas

Tanto a restrição quanto o excesso de sono foram associados a efeitos adversos:

  • Sono curto: Elevação de citocinas inflamatórias, distúrbios neuroplásticos (com impacto na memória), aumento do risco cardiovascular e alguns tipos de câncer.
  • Sono prolongado: Associado a inflamação crônica, resistência à insulina, maior sedentarismo e risco aumentado de doenças cardiovasculares e metabólicas.

Nos idosos, é possível que a longa duração do sono reflita, na verdade, fragilidade ou presença de doenças crônicas, fenômeno conhecido como causalidade reversa.

Limitações do estudo

Como a duração do sono foi autorrelatada, há risco de viés de memória ou desejo de responder de forma socialmente aceitável. Além disso, a ausência de medidas objetivas de sono (como actigrafia) e de dados sobre qualidade do sono, comorbidades ou uso de medicamentos limita a precisão das conclusões. Apesar disso, a grande escala, representatividade populacional e análise estratificada por idade conferem robustez aos achados.

Conclusão

Dormir entre 6 e 8 horas por noite foi associado à menor mortalidade em todas as faixas etárias. No entanto, a interpretação dos extremos (pouco ou muito sono) deve considerar a idade do indivíduo. Adultos jovens devem evitar privação de sono, enquanto idosos e longevos devem atentar para os riscos associados ao sono excessivo. Estratégias de saúde pública voltadas à higiene do sono podem se beneficiar ao incorporar recomendações personalizadas por faixa etária.

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.sleep.2025.02.024

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