Aplicativos como FatSecret, MyFitnessPal e Cronometer são amplamente utilizados por pessoas que buscam controlar a ingestão de calorias e macronutrientes. Eles oferecem praticidade, permitem visualizar padrões alimentares e ajudam no processo de aprendizagem para quem está começando uma nova abordagem nutricional. No entanto, para estratégias terapêuticas como a dieta paleolítica cetogênica (PKD), que exige precisão e especificidade na escolha e proporção dos alimentos, esses aplicativos podem não ser as ferramentas mais adequadas.
Na PKD, desenvolvida pela equipe da Paleomedicina da Hungria, a alimentação é baseada exclusivamente em produtos animais naturais, sem adição de carboidratos vegetais ou alimentos processados. Um dos pilares fundamentais é a proporção de 2:1 entre gordura e proteína em peso — parâmetro essencial para alcançar efeitos terapêuticos como cetose nutricional profunda, regulação hormonal, efeito anti-inflamatório e suporte imunometabólico. Para atingir essa proporção de forma eficaz, é necessário conhecer com precisão a composição real dos alimentos ingeridos.
A maior limitação dos aplicativos está justamente na origem e padronização de suas bases de dados. Eles se baseiam em médias populacionais, muitas vezes de produtos industrializados ou de origem estrangeira, cujos valores não refletem os alimentos que chegam à mesa do brasileiro. Um exemplo clássico é a carne de porco: sua composição pode variar drasticamente entre uma criação intensiva alimentada com ração e um animal de pasto. Mesmo alimentos aparentemente simples, como fígado, rabada, tutano ou sobrecoxa com pele, podem apresentar grande variação de gordura conforme o preparo — e isso não é capturado com fidelidade nos aplicativos.
Além disso, preparações caseiras como patê de fígado, ossos assados com tutano ou misturas específicas de cortes gordos não têm entrada exata nas plataformas. O usuário acaba sendo forçado a usar substituições genéricas, o que compromete o cálculo da proporção gordura:proteína — elemento crítico da estratégia. Mesmo um pequeno erro pode levar à ingestão inadequada de gordura, prejudicando a cetose e os resultados clínicos da dieta.
Por isso, os profissionais que aplicam uma dieta clinicamente recomendam que o rastreamento seja feito com base no peso real dos alimentos e na estimativa manual da composição, utilizando fontes confiáveis e adaptadas ao contexto da dieta. O uso de balança de cozinha e a familiarização com os alimentos de origem animal tornam-se muito mais eficazes que confiar exclusivamente em números estimados por sistemas generalistas.
Em resumo, os aplicativos são úteis, especialmente em fases iniciais de transição alimentar. No entanto, se o objetivo for terapêutico e os resultados dependerem de precisão, como no manejo da PKD, a recomendação é não depender unicamente dessas ferramentas, mas buscar um rastreamento alinhado à realidade do alimento consumido.