Tratamento bem-sucedido de um paciente com obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão com a dieta carnívora


A síndrome metabólica, condição multifatorial que inclui obesidade, resistência à insulina, hipertensão e perfil lipídico alterado, está se tornando cada vez mais comum no mundo todo. Sua prevalência crescente ocorre mesmo diante do uso ampliado de medicamentos. A abordagem convencional baseia-se no tratamento isolado de cada sintoma — glicemia elevada, pressão arterial, dislipidemia — com diferentes fármacos. Esse modelo, no entanto, frequentemente leva ao uso excessivo de medicamentos e ao agravamento de efeitos colaterais. Nesse cenário, intervenções dietéticas voltadas à origem do problema têm se mostrado alternativas promissoras.

O caso clínico apresentado neste artigo relata a trajetória de uma paciente de 65 anos diagnosticada com síndrome metabólica. Obesa, hipertensa e com diabetes tipo 2, ela fazia uso de oito medicamentos distintos, incluindo antidiabéticos, anti-hipertensivos e inibidores de secreção ácida gástrica. Mesmo sob esse regime terapêutico, apresentava picos pressóricos, hiperglicemia persistente e sintomas contínuos.

A paciente foi então orientada a iniciar a dieta paleolítica cetogênica (PKD), modelo alimentar baseado predominantemente em alimentos de origem animal, com proporção elevada de gordura em relação à proteína (2:1 em peso). O protocolo exclui totalmente laticínios, grãos, vegetais solanáceos, óleos vegetais, adoçantes e alimentos ultraprocessados. Apenas uma pequena fração da dieta pode incluir raízes e frutas em quantidades limitadas.

No terceiro dia da dieta, todos os medicamentos foram suspensos — com exceção do bisoprolol, retirado após duas semanas. A adesão da paciente foi rigorosa. Ao longo de 22 meses de seguimento, observou-se uma melhora sustentada nos parâmetros clínicos e laboratoriais. A pressão arterial normalizou-se, os níveis de glicose em jejum e hemoglobina glicada (HbA1c) apresentaram queda significativa, e os níveis de triglicerídeos também diminuíram. O colesterol total e o LDL tiveram redução discreta, enquanto o HDL permaneceu estável.

A perda de peso foi progressiva: de 95 kg para 81 kg (IMC de 37,1 para 31,6). Não foram relatados efeitos colaterais nem houve necessidade de suplementação vitamínica, inclusive com níveis normais de vitamina D mesmo sem uso de suplementos. A paciente referiu melhora na disposição física e ausência de sintomas. Cabe ressaltar que ela não praticou exercícios físicos durante o período — o que indica que os benefícios ocorreram exclusivamente em resposta à intervenção dietética.

Um ponto relevante deste relato é o fato de a paciente não possuir vesícula biliar — circunstância comumente apontada como contraindicação para dietas ricas em gordura. No entanto, não houve qualquer sintoma gastrointestinal ou intolerância à ingestão lipídica, desmistificando essa limitação clínica comumente atribuída.

Do ponto de vista fisiopatológico, a estratégia PKD parece oferecer vantagens adicionais em relação à dieta paleolítica tradicional. A restrição mais rigorosa de carboidratos leva à cetose nutricional sustentada, o que pode explicar a maior eficácia na redução da glicemia e da pressão arterial. Conforme documentado, a paciente identificava correlação direta entre episódios de consumo de frutas e elevações agudas da pressão arterial — achado que está em concordância com evidências que associam a frutose ao aumento pressórico.

O caso reforça a hipótese de que a síndrome metabólica é, em grande parte, uma condição induzida por padrões alimentares incompatíveis com a biologia humana. A reversão do quadro clínico sem medicamentos, apenas com uma dieta alinhada à fisiologia evolutiva, é uma demonstração prática da potência terapêutica de estratégias alimentares bem conduzidas.

Por fim, o estudo contribui com uma importante observação clínica: o uso concomitante de anti-hipertensivos e antidiabéticos pode dificultar o restabelecimento do equilíbrio metabólico. A retirada dos medicamentos — acompanhada por orientação especializada e monitoramento — foi essencial para que o corpo retomasse sua autorregulação fisiológica.

Conclusão

A dieta paleolítica cetogênica demonstrou-se segura, viável e eficaz como intervenção terapêutica única para esta paciente com síndrome metabólica, mesmo na ausência da vesícula biliar. A descontinuação completa de medicamentos, aliada à melhora clínica sustentada, indica que essa abordagem pode representar uma alternativa de baixo custo e alta efetividade para indivíduos motivados com condições crônicas complexas.

Fonte: https://doi.org/10.5348/ijcri-201530-CR-10491

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