Síndrome de Gilbert tratada com sucesso com a Dieta Paleolítica Cetogênica


A Síndrome de Gilbert é uma condição hereditária comum caracterizada por níveis elevados de bilirrubina no sangue devido à atividade reduzida de uma enzima hepática chamada UDP-glicuronosiltransferase. Apesar de geralmente ser considerada benigna e não exigir tratamento, muitos pacientes experimentam sintomas persistentes e desconfortáveis, como fadiga, enxaqueca, constipação, alterações dermatológicas e icterícia ocular discreta.

Este relato de caso, publicado no American Journal of Medical Case Reports, descreve a trajetória de uma mulher de 30 anos que, após o diagnóstico acidental da síndrome em 2006, passou por transformações marcantes em seu quadro clínico com a adoção progressiva de duas abordagens nutricionais distintas: primeiro a dieta paleolítica convencional e, posteriormente, a dieta paleolítica cetogênica (PKD).

Dieta Paleolítica Convencional: Melhoras Parciais

Inicialmente, a paciente optou por uma versão popular da dieta paleolítica, que eliminava laticínios, grãos refinados, leguminosas e óleos vegetais processados, mas incluía frutas, vegetais, carnes, ovos, sementes e gorduras como óleo de coco. Durante os 20 meses em que seguiu essa abordagem, foram observadas algumas melhoras: redução na bilirrubina total, desaparecimento da icterícia ocular, diminuição das crises de enxaqueca e resolução da constipação. No entanto, a paciente apresentou perda de peso significativa (queda do IMC de 17,9 para 16,1), e sintomas como fadiga e dermatite granulomatosa permaneceram.

Transição para a Dieta Paleolítica Cetogênica: Remissão Total dos Sintomas

Em julho de 2012, a paciente foi orientada a adotar a dieta paleolítica cetogênica — uma estratégia alimentar exclusivamente baseada em alimentos de origem animal, com alta ingestão de gordura (relação mínima de 2:1 em peso entre gordura e proteína), consumo regular de vísceras (fígado, cérebro, tutano), ovos, carnes de ruminantes e ausência total de aditivos alimentares, óleos vegetais, adoçantes e alimentos com potencial inflamatório, mesmo naturais (como castanhas e coco).

Após cinco meses na PKD, exames laboratoriais revelaram níveis normalizados de bilirrubina total e direta. Avaliações posteriores mantiveram esses níveis estáveis abaixo do limite de referência. Além disso, a paciente experimentou a remissão completa da fadiga, melhora notável da disposição física e mental, redução ainda maior nas crises de enxaqueca (cerca de 2 ao ano), desaparecimento total da dermatite granulomatosa e ganho ponderal que levou o IMC a 17,6.

Importante destacar que, mesmo sem suplementação vitamínica, os níveis séricos de vitamina B12, ácido fólico e vitamina D permaneceram adequados durante a PKD. A paciente apresentou ainda níveis normais de marcadores inflamatórios (PCR e fibrinogênio), glicose, função renal e hepática, com elevação apenas de colesterol total e LDL — perfil semelhante ao observado em outros pacientes que seguiram a PKD em estudos anteriores dos mesmos autores.

Considerações Finais

Este caso desafia a crença convencional de que doenças metabólicas de base genética, como a Síndrome de Gilbert, são intratáveis por meio de mudanças alimentares. A dieta paleolítica cetogênica não apenas normalizou os biomarcadores hepáticos da paciente como também promoveu a remissão completa dos sintomas clínicos que a acompanhavam há mais de uma década. Isso sugere que, ao corrigir a base metabólica subjacente e eliminar fatores dietéticos potencialmente antinutricionais, mesmo síndromes crônicas podem ser manejadas de forma eficaz.

Ao contrário da dieta cetogênica clássica, a PKD — centrada em alimentos animais de alta densidade nutricional — não demonstrou efeitos colaterais neste e em outros relatos dos mesmos autores, fortalecendo seu perfil de segurança e eficácia clínica.

Fonte: http://doi.org/10.12691/ajmcr-3-4-9

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