Risco de hipotireoidismo em comedores de carne, peixe e vegetarianos: um estudo prospectivo de base populacional


O estudo publicado em 2025 na revista BMC Medicine avaliou os riscos de hipotireoidismo em diferentes padrões alimentares com base nos dados da extensa coorte do UK Biobank, envolvendo mais de 466 mil adultos britânicos. O foco foi identificar se dietas com menor ou nenhuma inclusão de alimentos de origem animal — como as vegetarianas e veganas — estariam associadas a maior incidência da doença. Os resultados acendem um alerta importante sobre as possíveis consequências negativas da adoção dessas dietas sem adequada atenção a nutrientes críticos.

Principais achados

1. Maior risco de hipotireoidismo entre vegetarianos

Após ajustes para fatores como idade, sexo e uso de medicamentos que afetam a tireoide, o risco de desenvolver hipotireoidismo foi significativamente maior entre os vegetarianos quando o modelo estatístico incluía o índice de massa corporal (IMC). O risco foi 23% superior ao observado entre indivíduos com alto consumo de carne (HR = 1,23; IC 95%: 1,07–1,42). Também foram observadas maiores chances entre pescatarianos (OR = 1,10) e consumidores exclusivos de aves (OR = 1,15), em comparação com os grandes consumidores de carne.

2. Graves deficiências de iodo entre veganos e vegetarianos

A deficiência de iodo foi marcante entre aqueles que evitavam produtos de origem animal:

  • 92% dos veganos e 44% dos vegetarianos não atingiram a ingestão mínima recomendada de 150 µg de iodo por dia.
  • O consumo médio de iodo foi de apenas 93 µg/dia entre veganos — cerca de 60% abaixo da recomendação.
  • Embora o iodo seja essencial para a produção dos hormônios tireoidianos, sua principal fonte dietética no Reino Unido é o leite de vaca e frutos do mar, ausentes ou limitados nessas dietas.

3. Presença de alimentos goitrogênicos pode agravar o risco

A ingestão elevada de vegetais crucíferos (como couve-flor, brócolis e couve) e soja, mais comuns em dietas vegetarianas e veganas, pode reduzir ainda mais a biodisponibilidade do iodo. Esses alimentos contêm compostos goitrogênicos que interferem na captação de iodo pela tireoide, sobretudo quando a ingestão do mineral já está abaixo do ideal.

4. Baixa ingestão de ferro e zinco pode comprometer o eixo tireoidiano

As dietas com restrição animal apresentaram menor consumo de ferro heme e zinco, dois micronutrientes fundamentais para a função tireoidiana adequada. A deficiência desses minerais afeta a produção de hormônios e pode induzir disfunções do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide.

5. Possível relação inversa entre adoção da dieta e sintomas prévios

O estudo discute que indivíduos com sintomas ainda não diagnosticados de hipotireoidismo (como fadiga, ganho de peso, constipação) podem ter mudado sua dieta para padrões mais “saudáveis” antes mesmo do diagnóstico, o que dificulta a identificação da real direção da causalidade. Essa mudança alimentar pode mascarar a relação entre causa e efeito, mas não elimina a associação estatística observada.

6. Limitações metodológicas reforçam necessidade de cautela

Embora a amostra seja grande, o número de veganos foi muito pequeno (n = 397), o que limita a generalização dos achados para essa população. Além disso, não foram avaliados os níveis hormonais da tireoide nem a suplementação de iodo. As análises também não consideraram o total de calorias ingeridas, fator que poderia interferir no metabolismo e nas funções endócrinas.

Considerações finais

A pesquisa aponta para um risco aumentado e consistente de hipotireoidismo entre vegetarianos — risco que parece não ser compensado por eventuais benefícios cardiometabólicos da dieta. Mesmo em um país com acesso a alimentos variados como o Reino Unido, a ausência de fortificação obrigatória do sal com iodo agrava o problema, sobretudo para quem evita alimentos de origem animal.

Esses achados sugerem que dietas vegetarianas e veganas, especialmente quando mal planejadas, podem representar um risco real para a saúde da tireoide. A adesão a esses padrões alimentares deve ser acompanhada de orientação profissional cuidadosa, suplementação adequada e, preferencialmente, com monitoramento clínico periódico da função tireoidiana.

Fonte: https://doi.org/10.1186/s12916-025-04045-7

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