Os polifenóis são amplamente promovidos por suas potenciais propriedades benéficas à saúde, incluindo alegados efeitos protetores contra o câncer. No entanto, os resultados do estudo prospectivo de base populacional conduzido no Japão — Japan Public Health Center-based Prospective Study — lançam dúvidas significativas sobre a robustez dessas alegações, especialmente quando se analisam os efeitos globais sobre a incidência de câncer.
Falta de associação com redução do risco de câncer total
Apesar de envolver uma grande coorte com mais de 91 mil participantes e mais de 15 mil casos de câncer incidentes ao longo de 15,7 anos de seguimento, nenhuma associação significativa foi encontrada entre a ingestão total de polifenóis e o risco de câncer total. Os autores observaram que, mesmo após ajustes extensivos para fatores de confusão (como idade, tabagismo, álcool, atividade física e ingestão calórica), os quintis superiores de ingestão de polifenóis não apresentaram redução estatisticamente significativa do risco.
Essa ausência de efeito global contrasta com a ideia frequentemente difundida de que dietas ricas em polifenóis oferecem ampla proteção contra o câncer. Os dados sugerem que, na prática populacional, a ingestão dietética desses compostos não se traduz em benefício clínico mensurável contra o risco oncológico geral.
Resultados inconsistentes por localização do câncer
Ainda que alguns achados pontuais tenham sugerido associações inversas — como no caso do câncer de mama em mulheres — essas observações foram modestas e de significância estatística marginal. Por exemplo:
- A redução de risco observada para câncer de mama foi pequena (HR 0,82) e poderia ser influenciada por fatores dietéticos específicos da população japonesa, como o consumo elevado de soja e chá verde.
- Para câncer de fígado em homens, a tendência inversa (HR 0,72) não alcançou significância estatística robusta (IC 95% incluiu 1,00).
Esses dados apontam para uma possível seletividade de efeito, que não se sustenta de forma consistente ao longo de diferentes tipos de câncer ou entre sexos.
Fragilidade dos efeitos por subclasses de polifenóis
Ao investigar subclasses de polifenóis, como flavonoides e ácidos fenólicos, o estudo não encontrou nenhuma associação clara entre o consumo dessas moléculas e a redução do risco oncológico, com exceção de um modesto efeito inverso para ácidos fenólicos em câncer de mama. Mesmo assim, a ausência de consistência entre os diferentes tipos de polifenóis enfraquece a hipótese de um mecanismo de proteção universal.
Além disso, a contribuição alimentar desses compostos — majoritariamente oriunda de café, chá verde e soja — levanta dúvidas sobre até que ponto os efeitos podem ser atribuídos diretamente aos polifenóis, ou se refletem interações com outros componentes dietéticos ou fatores culturais.
Limitações e implicações
O estudo também ressalta limitações metodológicas que comprometem a confiabilidade dos achados positivos:
- A ingestão de polifenóis foi estimada por questionários alimentares autorrelatados, sujeitos a viés de memória e subestimação.
- O banco de dados de composição de polifenóis, embora detalhado, não representa completamente a biodisponibilidade real ou a atividade metabólica desses compostos no organismo.
- O perfil dietético da população japonesa, rico em alimentos específicos como chá verde e soja fermentada, dificulta a extrapolação dos resultados para outras populações, especialmente ocidentais.
Conclusão
Embora frequentemente considerados benéficos, os polifenóis dietéticos não demonstraram efeito protetor consistente contra o câncer total nesta coorte japonesa de longo prazo. As associações favoráveis por localização tumoral foram modestas, inconsistentes e passíveis de confusão residual. Os resultados reforçam a necessidade de cautela ao promover polifenóis como agentes preventivos contra o câncer com base em evidências populacionais.
Fonte: https://doi.org/10.1016/j.tjnut.2025.04.028