Dieta Carnívora nas Doenças Crônicas: Evidências Clínicas e Dados de Pesquisa

Pesquisadores húngaros desenvolveram uma abordagem nutricional inovadora chamada dieta cetogênica paleolítica (PKD), que combina elementos das dietas paleolítica e cetogênica tradicionais. Desde 2012, o Centro Internacional para Intervenção Nutricional Médica (ICMNI) tem aplicado exclusivamente esta metodologia no tratamento de uma ampla gama de condições crônicas, incluindo doenças autoimunes, câncer e condições neurológicas e psiquiátricas.

A PKD foi desenvolvida para aproveitar os benefícios de ambas as dietas enquanto elimina suas limitações conhecidas. Os pesquisadores observaram que tanto a versão clássica da dieta cetogênica quanto a versão popular da dieta paleolítica apresentam efeitos colaterais documentados. Como exemplo, relataram o caso de um paciente que desenvolveu aterosclerose grave após sete anos seguindo a dieta paleolítica popular, e outro que desenvolveu tofos (depósitos de cristais de urato) após 17 anos na dieta cetogênica clássica.

Composição e Princípios da Dieta PKD

A composição da PKD fundamenta-se em uma abordagem que prioriza alimentos de origem animal, sendo estruturada para atender às necessidades fisiológicas humanas. Segundo os desenvolvedores do protocolo, a PKD consiste em 70-100% de alimentos de origem animal e 0-30% de alimentos de origem vegetal, sendo que apenas os alimentos de origem animal fornecem todos os nutrientes necessários.

Alimentos Permitidos na PKD:

Para pessoas com doenças graves, apenas carne, gordura animal e vísceras de animais quadrúpedes, preferencialmente criados a pasto, são recomendados. A dieta especifica uma proporção de gordura para proteína de aproximadamente 2:1 em gramas. Para pessoas recuperadas e/ou saudáveis, há algumas permissões alimentares, incluindo peixe, frango ou outras aves e ovos, bem como certas vegetais, frutas e mel.

Alimentos Excluídos:

Leite, laticínios, cereais, grãos, oleaginosas, leguminosas, solanáceas, óleos vegetais (incluindo óleo de coco e azeite de oliva), açúcares refinados, adoçantes artificiais, alimentos com aditivos, chá preto e chás de ervas são todos proibidos. Suplementos vitamínicos ou minerais também são proibidos na PKD.

Flexibilidade Baseada no Estado de Saúde:

Os indivíduos geralmente consomem apenas carne animal, gordura, vísceras e ovos, com quantidades limitadas de alimentos vegetais. Em alguns casos, o café é permitido com moderação e alguns pacientes podem usar pequenas quantidades de mel. Os pesquisadores enfatizam que a quantidade de plantas permitidas depende do estado de saúde do paciente.

Protocolo Alimentar:

Os médicos húngaros recomendam que os indivíduos comam apenas quando sentem fome, com alguns pacientes fazendo apenas duas refeições por dia. A abordagem prioriza a qualidade dos alimentos, exigindo que sejam integrais, não processados e livres de químicos.

Base Científica da Composição:

A PKD tem raízes tanto na dieta paleolítica quanto na dieta cetogênica clássica, priorizando carnes vermelhas e gordurosas, com vísceras sendo encorajadas. A dieta foi desenvolvida com base em evidências clínicas derivadas de mais de 10.000 pacientes tratados ao longo de mais de uma década.

Resultados no Diabetes Tipo 1

A pesquisa demonstrou que a PKD oferece três benefícios principais para pacientes com diabetes tipo 1 (T1DM): controle glicêmico, redução da necessidade de insulina e diminuição dos episódios hipoglicêmicos. Além disso, a dieta proporciona controle da inflamação, aspecto fundamental considerando a origem autoimune da doença.

O controle inflamatório obtido através da PKD pode prevenir o desenvolvimento de complicações a longo prazo. Em pacientes com T1DM de início recente, a intervenção com PKD resultou na prevenção da deterioração adicional da produção própria de insulina, evidenciada por medições estáveis ou até aumentadas do peptídeo-C após a adoção da dieta.

Os pesquisadores apresentaram seis casos de T1DM onde foi alcançada normoglicemia e liberdade de insulina a longo prazo, junto com preservação da produção de peptídeo-C. Para avaliar adequadamente a capacidade de produção de insulina em dietas com baixo teor de carboidratos, os pesquisadores introduziram a medição do peptídeo-C estimulado como nova ferramenta, além do peptídeo-C em jejum regular.

Aplicação em Pacientes com Câncer

O banco de dados de pacientes com câncer tratados com PKD incluiu 47 pacientes. A análise revelou que os sobreviventes a longo prazo foram aqueles que apresentaram alta aderência à PKD e, simultaneamente, recusaram quimioterapia e radioterapia.

Um caso notável envolveu um paciente com glioblastoma que utilizou a PKD como terapia única e permaneceu livre de progressão e sintomas aos 25 meses na dieta e 32 meses após o diagnóstico inicial. Em contraste, outro paciente com glioblastoma que aderiu rigorosamente à PKD mas também utilizou radioterapia e tratamentos alternativos, incluindo oxigenoterapia hiperbárica e suplementos, faleceu aos 11 meses de dieta.

Os dados mostraram que pacientes que superaram seus prognósticos não apenas permaneceram vivos, mas também livres de progressão. Uma diminuição temporária na aderência à PKD em um paciente com tumor cerebral recorrente foi associada a leve progressão, enquanto o retorno ao seguimento rigoroso da dieta correlacionou-se com regressão.

Medições de Permeabilidade Intestinal

Os pesquisadores utilizaram o teste de desafio PEG400 para medir a permeabilidade intestinal (IP), que oferece várias vantagens sobre outros testes de IP. Desde 2017, as medições têm sido realizadas em laboratório próprio em colaboração com o Departamento de Biotecnologia Aplicada e Ciência dos Alimentos da Universidade de Tecnologia e Economia de Budapeste.

As medições demonstraram que seguir a PKD está associado à permeabilidade intestinal normal. A IP originalmente elevada, seja por dieta ocidental, dieta cetogênica clássica ou dieta paleolítica, normalizou após a mudança para a PKD tanto em pessoas saudáveis quanto em pacientes. O uso de medicamentos ou suplementos também pode estar associado ao aumento da IP.

Um exemplo específico envolveu um paciente com linfoma de Hodgkin que originalmente seguia a dieta cetogênica clássica com múltiplos suplementos. A primeira medição foi realizada imediatamente antes do início da PKD (após vários ciclos de quimioterapia), e a segunda medição foi feita aos 3,5 meses na PKD sem quimioterapia. A normalização da permeabilidade intestinal foi acompanhada por melhora sintomática.

Metodologia e Abordagem Científica

A pesquisa baseou-se em mais de 4.000 pacientes tratados desde 2012, proporcionando uma base substancial de dados clínicos. A abordagem metodológica incluiu medições rigorosas de biomarcadores específicos, como o peptídeo-C estimulado para avaliação da função pancreática e testes de permeabilidade intestinal utilizando PEG400.

Os resultados sugerem que a PKD pode oferecer benefícios terapêuticos significativos para várias condições crônicas, com particular destaque para o controle inflamatório e a preservação da função orgânica. A pesquisa enfatiza a importância da alta aderência à dieta para obtenção dos resultados terapêuticos desejados.

A experiência clínica documentada pelos pesquisadores húngaros fornece evidências preliminares sobre o potencial terapêutico da dieta cetogênica paleolítica em condições que tradicionalmente apresentam prognósticos desafiadores, incluindo diabetes tipo 1 e diversos tipos de câncer.

Fonte: https://doi.org/10.15310/2334-3591.1115

Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: