O que este estudo analisou
Uma equipe de pesquisadores japoneses conduziu uma análise rigorosa de estudos científicos para verificar se a redução do consumo de gorduras saturadas realmente previne doenças cardiovasculares e mortalidade. Os cientistas analisaram dados de nove ensaios clínicos randomizados que incluíram 13.532 participantes.
Contexto do problema
Desde 1977, as diretrizes dietéticas americanas recomendam limitar o consumo de gorduras saturadas com base principalmente em estudos observacionais, como o famoso Estudo dos Sete Países. A recomendação se fundamenta na observação de que as gorduras saturadas elevam os níveis de colesterol total e LDL no sangue, o que teoricamente aumentaria o risco cardiovascular.
O que os pesquisadores descobriram
A meta-análise revelou resultados que contrariam as expectativas baseadas nas diretrizes atuais. Os pesquisadores encontraram que a redução de gorduras saturadas não mostrou diferenças significativas nos seguintes desfechos:
- Mortalidade cardiovascular: risco relativo de 0,94 (intervalo de confiança 95%: 0,75-1,19)
- Mortalidade por todas as causas: risco relativo de 1,01 (intervalo de confiança 95%: 0,89-1,14)
- Infarto do miocárdio: risco relativo de 0,85 (intervalo de confiança 95%: 0,71-1,02)
- Eventos coronarianos: risco relativo de 0,85 (intervalo de confiança 95%: 0,65-1,11)
Limitações importantes dos estudos analisados
Os pesquisadores identificaram várias limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados. Apenas um dos nove estudos incluiu participantes que utilizavam estatinas, medicamentos amplamente prescritos atualmente para controle do colesterol. Somente dois estudos incluíram mulheres, limitando a aplicabilidade dos resultados para a população feminina.
Diferenças com análises anteriores
Este estudo diferiu de meta-análises anteriores por utilizar critérios de inclusão mais rigorosos. Os pesquisadores excluíram estudos que não seguiam protocolos de randomização adequados ou que analisavam desfechos questionáveis, como o famoso Estudo Finlandês dos Hospitais Mentais, que foi incluído em análises prévias apesar de suas limitações metodológicas significativas.
Implicações para a prática clínica atual
Os achados sugerem que a evidência disponível de ensaios clínicos randomizados não sustenta a restrição de gorduras saturadas para prevenção de doenças cardiovasculares. Os pesquisadores enfatizam que futuras pesquisas devem avaliar os efeitos da restrição de gorduras saturadas em conjunto com o melhor cuidado médico atual, incluindo o uso de estatinas.
Contexto das diretrizes atuais
As diretrizes do Colégio Americano de Cardiologia e da Associação Americana do Coração continuam recomendando a limitação de gorduras saturadas. No entanto, estudos observacionais como o PURE mostraram correlação negativa entre consumo de gorduras saturadas e mortalidade por todas as causas, contradizendo a hipótese tradicional.
Considerações sobre qualidade da evidência
A análise de risco de viés revelou que nenhum dos nove ensaios apresentou baixo risco de viés. Sete estudos apresentaram algumas preocupações metodológicas e dois apresentaram alto risco de viés. Adicionalmente, todos os estudos não foram pré-registrados em registros de ensaios clínicos, aumentando o risco de viés de publicação.
Conclusões dos pesquisadores
Os pesquisadores concluem que as evidências disponíveis de ensaios clínicos randomizados não apoiam a restrição de gorduras saturadas para prevenção de doenças cardiovasculares. Eles enfatizam a necessidade de novos ensaios clínicos que avaliem os efeitos da restrição de gorduras saturadas considerando o tratamento médico atual, incluindo o uso de estatinas, e que incluam adequadamente tanto homens quanto mulheres.