Desafios modernos da nutrição do iodo: dietas veganas e vegetarianas


As dietas vegetarianas estão ganhando popularidade em todo o mundo, especialmente entre mulheres e na parcela mais jovem da população. No entanto, este crescimento levanta preocupações sobre o risco de deficiência de iodo quando a dieta não é corretamente planejada. Pesquisadores da Universidade de Pavia, na Itália, analisaram como diferentes tipos de dietas baseadas em plantas podem afetar o status nutricional do iodo.

Compreendendo os tipos de dietas vegetarianas

Lacto-ovo-vegetarianismo (LOV): Inclui produtos lácteos, ovos e mel, podendo ser subdividido em lacto-vegetarianismo (exclui ovos) e ovo-vegetarianismo (exclui laticínios).

Veganismo: Exclui completamente todos os alimentos de origem animal.

Além disso, há outras variações como a dieta pescatariana (exclui carnes e aves, mas inclui peixes) e a semi-vegetariana ou flexitariana (inclui carne ocasionalmente).

O papel fundamental do iodo

O iodo é um elemento essencial para a síntese dos hormônios da tireoide e não pode ser substituído por nenhum outro nutriente. Este mineral pode ser obtido exclusivamente através da alimentação ou suplementos. As principais fontes naturais de iodo incluem leite, frutos do mar, ovos e seus derivados.

Necessidades diárias recomendadas

Segundo a Organização Mundial da Saúde:

  • Adultos: 150 microgramas por dia
  • Mulheres grávidas e lactantes: 250 microgramas por dia
  • Crianças: Varia de 90 a 120 microgramas dependendo da idade

Riscos das dietas vegetarianas para o status do iodo

Deficiência de iodo

Indivíduos que seguem dietas vegetarianas, principalmente veganos, apresentam risco aumentado de desenvolver deficiência de iodo. Isso ocorre porque:

  • Alimentos de origem vegetal contêm naturalmente menos iodo que os de origem animal
  • A exclusão de leite e laticínios remove uma fonte importante de iodo, especialmente relevante para crianças
  • Muitas alternativas vegetais ao leite não são fortificadas com iodo

Estudos demonstraram que veganos apresentam concentrações urinárias de iodo e ingestão estimada de iodo inadequadas quando comparados aos onívoros.

O paradoxo do excesso

Paradoxalmente, vegetarianos e veganos também podem estar em risco de excesso de iodo devido ao uso de:

  • Algas marinhas: Fontes ricas em iodo, mas com conteúdo altamente variável que pode exceder em até 100 vezes as necessidades diárias
  • Suplementos não regulamentados: Muitos produtos comercializados para veganos contêm quantidades excessivas de iodo, frequentemente superando os limites seguros estabelecidos

Populações mais vulneráveis

Mulheres em idade reprodutiva

Durante a gravidez, a deficiência de iodo pode causar retardo no crescimento e danos cerebrais no feto, além de induzir bócio tanto materno quanto fetal. As necessidades de iodo aumentam durante a gestação devido à maior síntese de hormônios tireoidianos maternos e à transferência de iodo para o feto.

Um estudo australiano específico mostrou que mulheres veganas em idade reprodutiva apresentavam menores concentrações urinárias de iodo e menor ingestão de iodo comparadas às onívoras.

Crianças

O risco de deficiência de iodo em crianças que seguem dietas baseadas em plantas é relevante, especialmente porque o comportamento alimentar depende dos pais. Estudos alemães encontraram menor ingestão de iodo em crianças veganas e vegetarianas comparadas às onívoras.

Um aspecto preocupante é o uso generalizado de substitutos vegetais do leite para recém-nascidos e crianças pequenas veganos, pois essas bebidas geralmente não são fortificadas com iodo.

Estratégias para adequação do iodo

Sal iodado: a solução mais eficaz

O sal iodado representa uma ferramenta eficaz, segura e econômica para melhorar a nutrição do iodo. A adição de no máximo 5 gramas de sal iodado por dia fornece 150 microgramas de iodo (a necessidade diária recomendada) sem aumentar o risco de hipertensão.

Suplementação adequada

Para pessoas que seguem dietas vegetarianas, especialmente veganas:

  • Suplementos de iodeto de potássio: 150 microgramas diários para adultos
  • Mulheres em idade reprodutiva: Iniciar suplementação 3 meses antes da gravidez
  • Gestantes e lactantes: 150-225 microgramas diários

Deve-se evitar suplementos contendo algas (kelp) devido ao risco de excesso de iodo.

Alimentos fortificados

Veganos devem utilizar alternativas vegetais ao leite fortificadas com iodo, enquanto o consumo de vegetais marinhos deve ser desencorajado para prevenir excesso de iodo.

Recomendações práticas

Uma dieta vegetariana bem planejada pode proporcionar benefícios à saúde enquanto se alinha com princípios éticos e ambientais, desde que as inadequações nutricionais potenciais sejam consideradas. Para garantir adequação do iodo:

  1. Use sal iodado independentemente do tipo de dieta vegetariana
  2. Considere suplementação especialmente para mulheres em idade reprodutiva
  3. Evite algas marinhas devido ao risco de excesso
  4. Escolha alternativas vegetais fortificadas quando disponíveis
  5. Busque orientação nutricional especialmente para grupos vulneráveis

É essencial melhorar a conscientização sobre fontes de iodo para pessoas que seguem dietas vegetarianas/veganas para evitar tanto inadequação quanto excesso de iodo. O aconselhamento nutricional é fundamental para garantir ingestão adequada de iodo ao planejar uma dieta vegetariana/vegana, particularmente entre os grupos populacionais mais suscetíveis.

Fonte: https://doi.org/10.3389/fendo.2025.1537208

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