Cessação completa da neoplasia intraepitelial cervical recorrente pela dieta carnívora


Durante décadas, a abordagem convencional para casos de neoplasia intraepitelial cervical (CIN) de alto grau — considerada uma condição pré-maligna do câncer cervical — envolveu procedimentos invasivos como a histerectomia, especialmente nos casos de recorrência. No entanto, um estudo de caso publicado no Journal of Cancer Research and Treatment em 2018 trouxe uma alternativa surpreendente: a remissão completa da CIN recorrente por meio da adoção da dieta paleolítica cetogênica (PKD).

O caso clínico

A paciente, uma mulher de 42 anos, sem histórico de tabagismo ou uso de contraceptivos orais, foi diagnosticada inicialmente com lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) em 2011. Foi tratada com conização cervical e curetagem fracionada, com margens livres, mantendo-se assintomática nos quatro anos seguintes.

A partir de 2014, passou a seguir uma versão popular da dieta paleolítica, caracterizada por alto consumo de vegetais, frutas, óleos vegetais (inclusive coco e oliva), adoçantes e suplementos — um padrão que, segundo os autores, não reflete a dieta paleolítica proposta em estudos científicos. Durante esse período, exames mostraram espessamento endometrial e, em 2015, houve recidiva da CIN de alto grau, detectada por citologia e positividade para HPV. Foi indicada a realização de histerectomia, mas a paciente recusou e procurou acompanhamento nutricional.

A intervenção nutricional

A dieta proposta foi a PKD — baseada exclusivamente em alimentos de origem animal, com proporção de gordura para proteína em torno de 2:1 (em peso), excluindo cereais, laticínios, óleos vegetais, adoçantes, suplementos, legumes e frutas em excesso. Os autores enfatizaram o consumo de carnes vermelhas gordas e vísceras, com frutas e vegetais limitados a no máximo 30% do volume alimentar. A paciente iniciou a dieta imediatamente.

Após três meses, a citologia de Papanicolaou mostrou resultados normais. Esse padrão se manteve nos exames seguintes, com exceção de um episódio de “ASC-US” (células escamosas atípicas de significado indeterminado) detectado 12 meses após o início da dieta, justamente após um período de adesão irregular e maior consumo de frutas. A retomada do protocolo rigoroso levou à normalização dos exames seguintes, mantidos por 26 meses de acompanhamento.

Evidências laboratoriais e estado geral

Os exames laboratoriais mostraram triglicerídeos e ácido úrico baixos, colesterol total discretamente elevado — alterações compatíveis com o estado de cetose nutricional. A proteína C-reativa (PCR), marcador inflamatório, estava baixa, assim como o TSH, coerente com dietas de baixo carboidrato. A paciente manteve-se em cetose por quase todo o período, exceto durante o verão de 2016, quando consumiu mais frutas. Seu peso corporal se manteve estável, sem efeitos colaterais relatados.

Discussão e implicações

Os autores destacam que a simples eliminação de alimentos não paleolíticos — como grãos, laticínios e aditivos — pode restaurar a integridade das barreiras intestinais, reduzir inflamação sistêmica e modular o ambiente metabólico de forma desfavorável ao crescimento tumoral. Adicionalmente, o estado de cetose sustentado por fontes animais pode melhorar a biodisponibilidade de nutrientes essenciais e reduzir a carga de deutério, um mecanismo potencial de ação antitumoral discutido na literatura recente.

A remissão completa da CIN sem intervenção médica adicional, após recidiva confirmada, é um desfecho pouco provável na evolução natural da doença. Assim, os autores concluem que a dieta paleolítica cetogênica foi segura, eficaz e permitiu evitar uma histerectomia que, em condições usuais, seria considerada inevitável.

Este caso reforça a hipótese de que a modulação metabólica e imunológica por meio da alimentação pode desempenhar papel terapêutico significativo em condições pré-malignas. No entanto, os autores reconhecem a limitação de evidências clínicas e a necessidade de estudos controlados para validar e ampliar esses achados.

Fonte: https://www.sciepub.com/jcrt/abstract/8511

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