Estudos das décadas de 1970 e 1980 indicaram que o consumo de fibras alimentares pode, na verdade, aumentar o risco de câncer de cólon, desafiando a crença amplamente difundida de que elas oferecem proteção contra a doença. Pesquisas sugeriram que dietas ricas em fibras, especialmente aquelas contendo farelo de trigo, pectina, guar e celulose, estimulam significativamente a proliferação das células epiteliais do cólon. Esse crescimento acelerado das células intestinais é um fator preocupante, pois a hiperplasia celular tem sido associada a um risco aumentado de desenvolvimento de tumores em diferentes modelos experimentais.
Uma das principais preocupações levantadas é que a alta taxa de renovação celular induzida por certos tipos de fibra pode comprometer a integridade do DNA das células do cólon. O aumento na divisão celular reduz o tempo disponível para os mecanismos de reparo do DNA, tornando as células mais suscetíveis a danos genéticos e mutações que podem levar à formação de tumores. Estudos experimentais confirmaram essa suspeita ao demonstrar que ratos alimentados com farelo de trigo durante a administração do agente cancerígeno 1,2-dimetilhidrazina (DMH) desenvolveram mais tumores em comparação com aqueles que não consumiram a fibra. O efeito foi mais pronunciado no cólon proximal, indicando que o farelo de trigo pode desempenhar um papel importante na fase inicial da carcinogênese.
Além do farelo de trigo, outras fibras também apresentaram efeitos adversos. A pectina, por exemplo, foi associada a um aumento na incidência de tumores no intestino grosso e delgado em estudos experimentais. Esses achados sugerem que o consumo de determinadas fibras pode não apenas falhar na prevenção do câncer colorretal, mas também atuar como um fator de risco ao estimular um ambiente favorável à proliferação celular descontrolada.
Outro ponto de atenção é que fatores como o aumento do pH fecal e o crescimento excessivo de certas bactérias intestinais anaeróbicas foram associados a dietas ricas em fibras. Essas condições podem potencializar a produção de ácidos biliares secundários, como o ácido litocólico, que têm sido implicados no aumento da carcinogênese colônica. Além disso, estudos mostraram que a alimentação com ácidos biliares, como o ácido cólico, leva a uma maior proliferação celular no cólon e a um aumento na frequência de tumores intestinais.
Por outro lado, substâncias antioxidantes, como o ácido ascórbico e o butil-hidroxi-anisol, demonstraram reduzir a proliferação celular colônica e inibir a carcinogênese. Isso reforça a hipótese de que a estimulação do crescimento celular, como a promovida por algumas fibras, pode ser um fator crítico na iniciação do câncer de cólon.
Essas descobertas questionam a recomendação tradicional de um alto consumo de fibras para a prevenção do câncer colorretal. O estímulo excessivo à renovação celular no cólon pode representar um risco oculto, especialmente em indivíduos predispostos à doença. Assim, é necessário reconsiderar as diretrizes sobre o consumo de fibras, levando em conta seu potencial efeito adverso na saúde intestinal e a possibilidade de aumentar o risco de câncer colorretal em determinadas circunstâncias.
Fonte: https://doi.org/10.1007/978-1-4613-2111-8_34