Investigação dos efeitos de uma dieta low-carb na dor crônica após amputação


A dor crônica que se segue à perda de um membro é uma realidade complexa e desafiadora para muitos pacientes. Seja na forma de dor fantasma (quando o cérebro ainda interpreta estímulos no membro que não existe mais) ou dor residual (sentida na região da amputação), essa condição impacta não apenas o bem-estar físico, mas também a saúde mental e emocional dos indivíduos. Diante das limitações dos tratamentos convencionais — que muitas vezes não promovem alívio duradouro —, pesquisadores têm buscado alternativas terapêuticas não invasivas. Uma dessas possibilidades, ainda pouco explorada, é a intervenção dietética.

Foi com essa motivação que um grupo de cientistas da Universidade do Alabama em Birmingham conduziu um estudo piloto para investigar os efeitos de uma dieta com baixo teor de carboidratos (low-carb diet, LCD) em adultos com amputações adquiridas. A proposta era avaliar não só os níveis de dor, mas também aspectos emocionais e cognitivos frequentemente comprometidos nesse grupo.

O estudo contou com sete participantes adultos, todos convivendo com dor fantasma ou dor residual há mais de seis meses. Durante seis semanas, esses indivíduos seguiram uma dieta com restrição de carboidratos (≤40g por dia), com alimentos ricos em gorduras e proteínas de origem animal e mínima ingestão de frutas e vegetais ricos em amido. As refeições foram fornecidas semanalmente, e os participantes registraram sua alimentação em diários.

Ao longo do estudo, foram avaliados diversos parâmetros por meio de questionários validados: intensidade e interferência da dor, flexibilidade cognitiva, resiliência à dor, sintomas de depressão e ansiedade, fadiga e qualidade de vida.

Os resultados foram animadores. Apesar da pequena amostra, observou-se uma melhora significativa em vários indicadores. Os participantes relataram redução da intensidade da dor e menor presença de sintomas de dor neuropática. Além disso, houve queda nos índices de depressão e ansiedade, assim como melhora da flexibilidade cognitiva e do bem-estar emocional. Esses achados corroboram evidências anteriores sobre os potenciais efeitos anti-inflamatórios de dietas low-carb e sua influência positiva sobre o sistema nervoso e o humor.

Curiosamente, não foram observadas mudanças significativas na resiliência à dor — talvez porque os participantes já apresentavam altos níveis de resiliência no início do estudo. Também não houve alterações em aspectos mais amplos da qualidade de vida, como energia, sono, ou função física e social. Os autores sugerem que a curta duração da intervenção e a especificidade do tipo de dor (relacionada à amputação) podem ter limitado a observação de efeitos mais amplos.

Outro ponto de destaque foi a melhora da flexibilidade cognitiva — uma habilidade essencial para a adaptação a novas situações e frequentemente comprometida em pessoas que vivem com dor crônica. Embora não tenha havido mudanças na flexibilidade psicológica (a capacidade de ajustar comportamentos com base em valores pessoais), a melhora cognitiva pode indicar um efeito direto da dieta sobre funções cerebrais adaptativas.

Apesar das limitações — como o pequeno número de participantes, ausência de grupo controle, e a falta de dados objetivos como medidas de peso corporal — os achados deste estudo apontam para um caminho promissor. Uma intervenção nutricional simples, baseada na redução de carboidratos e aumento de alimentos naturais de origem animal, pode oferecer alívio para sintomas físicos e psicológicos associados à dor crônica em amputados.

Esses resultados encorajam futuras pesquisas com amostras maiores e intervenções mais prolongadas, que poderão confirmar e ampliar esses benefícios. Além disso, sugerem que a abordagem alimentar pode se somar a outras estratégias terapêuticas no cuidado integral da pessoa com amputação, oferecendo ganhos substanciais em saúde e qualidade de vida.

Fonte: https://doi.org/10.2147/JPR.S507742

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