Dietas com baixo teor de carboidratos no tratamento da obesidade pediátrica: uma revisão sistemática e meta-análise


Durante anos, o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes foi centrado em estratégias de restrição calórica e aumento da atividade física. No entanto, esses métodos muitas vezes resultam em pouco sucesso a longo prazo, levando a uma busca por abordagens mais eficazes. Nesse cenário, dietas com baixo teor de carboidratos vêm ganhando atenção crescente. O estudo publicado no periódico JAMA Pediatrics em 2025 analisou detalhadamente essa abordagem, avaliando sua eficácia e segurança no tratamento da obesidade pediátrica.

Os autores conduziram uma revisão sistemática e meta-análise de 18 estudos, totalizando 1.270 participantes, com idades entre 2 e 18 anos, diagnosticados com sobrepeso ou obesidade. A proposta foi clara: verificar se reduzir os carboidratos na alimentação de crianças e adolescentes levaria a melhores resultados em perda de peso e marcadores metabólicos, em comparação a dietas convencionais ou outras intervenções dietéticas.

O que chamou a atenção nos resultados foi a consistência dos benefícios. Crianças submetidas a dietas com restrição de carboidratos tiveram reduções significativamente maiores no índice de massa corporal (IMC) do que aquelas em dietas de controle. Além disso, observou-se uma melhora na sensibilidade à insulina, redução da glicose em jejum e melhora no perfil de triglicerídeos, sugerindo que essa abordagem pode beneficiar não apenas o peso, mas também o risco cardiometabólico dessas crianças.

Outro ponto importante destacado pelos autores foi a tolerabilidade e segurança dessas dietas. Apesar de preocupações comuns relacionadas à exclusão de grupos alimentares na infância, os estudos revisados não relataram efeitos adversos relevantes, mesmo em períodos de seguimento mais prolongados. Isso sugere que, quando bem planejadas e acompanhadas por profissionais de saúde, dietas com baixo teor de carboidratos podem ser seguras para o público pediátrico.

Contudo, os autores alertam para a qualidade metodológica variável dos estudos incluídos. Muitas das pesquisas tinham amostras pequenas, durações curtas e definições heterogêneas sobre o que constitui uma dieta “low carb”. A maioria dos estudos incluiu dietas com menos de 130g de carboidratos por dia, mas a composição exata variava, assim como a inclusão de cetose nutricional em alguns casos. Ainda assim, mesmo com essas diferenças, o padrão dos resultados foi positivo.

Em um contexto de aumento global da obesidade infantil e diante da dificuldade de reversão por métodos tradicionais, esse estudo fortalece a hipótese de que reduzir carboidratos pode ser uma ferramenta poderosa. Ele não propõe a adoção indiscriminada desse tipo de dieta, mas defende que ela seja considerada como uma alternativa legítima no arsenal terapêutico, especialmente para crianças com resistência à insulina ou histórico familiar de diabetes tipo 2.

Em suma, a mensagem do estudo é clara: dietas com baixo teor de carboidratos representam uma estratégia promissora e segura para o manejo da obesidade em crianças e adolescentes. Elas não devem ser vistas como modismos ou medidas radicais, mas como intervenções nutricionais fundamentadas em evidência científica, que, quando bem conduzidas, podem melhorar significativamente a saúde metabólica desde os primeiros anos de vida.

Fonte: https://doi.org/10.1093/nutrit/nuaf029

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