Em um contexto onde as dietas à base de plantas são cada vez mais promovidas como alternativas saudáveis e sustentáveis, é fundamental considerar não apenas os possíveis benefícios, mas também os riscos associados, especialmente quando essas dietas são mal formuladas. Um estudo de caso-controle conduzido com mulheres iranianas e publicado em 2025 investigou a relação entre diferentes padrões alimentares à base de plantas e o risco de câncer de mama, oferecendo resultados que merecem atenção crítica.
O estudo analisou três índices dietéticos distintos: o índice geral de dieta baseada em plantas (PDI), o índice de dieta baseada em plantas saudável (hPDI) e o índice de dieta baseada em plantas não saudável (uPDI). A amostra incluiu 133 mulheres diagnosticadas com câncer de mama e 265 mulheres sem histórico da doença, e buscou-se estabelecer correlações entre os padrões alimentares e a presença do câncer.
Embora o hPDI tenha demonstrado uma associação inversa com o risco de câncer em mulheres pós-menopáusicas, indicando um possível efeito protetor, os dados revelaram um cenário preocupante para o uPDI — ou seja, padrões alimentares ricos em alimentos vegetais considerados não saudáveis, como grãos refinados, doces, refrigerantes e sucos industrializados. Mulheres na pré-menopausa que consumiam esse tipo de dieta apresentaram um risco significativamente aumentado de desenvolver câncer de mama. Aquelas no tercil mais alto do uPDI tiveram mais que o dobro da probabilidade de ter a doença em comparação com aquelas no tercil mais baixo (OR = 2.546; IC 95%: 1.051–6.167; P = 0.038).
Esse achado levanta uma bandeira vermelha sobre a ideia de que toda dieta à base de plantas é automaticamente benéfica. A realidade é que uma alimentação predominantemente vegetal, mas composta por itens ultraprocessados e refinados, pode não apenas deixar de oferecer proteção, mas também aumentar o risco de doenças crônicas como o câncer. Isso é especialmente alarmante em regiões como o Irã, onde a base alimentar vegetal tradicional está fortemente centrada em carboidratos refinados, como pão branco e arroz polido.
Outro ponto de crítica está relacionado à ausência de associação significativa entre o índice geral de dieta baseada em plantas (PDI) e o risco de câncer de mama. Esse resultado sugere que a simples redução de alimentos de origem animal, sem um aumento concomitante no consumo de alimentos vegetais de alta qualidade, pode ser ineficaz do ponto de vista preventivo. Em outras palavras, não se trata apenas de “comer mais plantas”, mas sim de escolher as plantas certas.
Adicionalmente, o estudo apresenta limitações importantes. Entre elas, destaca-se o desenho hospitalar do estudo, que pode introduzir vieses de seleção, bem como o uso de questionários alimentares de autorrelato, sujeitos a erros de memória. Além disso, a amostra é relativamente pequena, e não foram considerados dados fundamentais, como o status do receptor hormonal dos tumores — fator essencial na compreensão da etiologia do câncer de mama.
Finalmente, é relevante observar que, embora o hPDI tenha mostrado efeitos protetores em certos grupos, como mulheres com IMC abaixo de 25, os dados não foram consistentes para toda a população estudada. Isso sugere que fatores como composição corporal, estado hormonal e outros hábitos de vida devem ser levados em consideração quando se avalia a real eficácia das dietas vegetais na prevenção do câncer.
Portanto, a principal lição desse estudo é clara: dietas baseadas em plantas não são isentas de riscos. Quando mal planejadas, podem contribuir para o aumento do risco de câncer, especialmente em mulheres mais jovens. A substituição indiscriminada de alimentos de origem animal por versões vegetais ultraprocessadas pode ser uma armadilha perigosa — um alerta que deve ser considerado em políticas públicas e orientações nutricionais.