Comer 3 ou 6 vezes ao dia: faz alguma diferença para sua saúde?


Durante décadas, a ideia de que comer com mais frequência ao longo do dia poderia melhorar a saúde metabólica ganhou força entre nutricionistas e profissionais de saúde. A teoria é intuitiva: dividir as calorias diárias em várias pequenas refeições ajudaria a controlar o apetite, manter níveis hormonais mais estáveis e reduzir inflamações. No entanto, os resultados do estudo FRESH (Frequency of Eating and Satiety Hormones), publicado no The Journal of Nutrition, colocam essa crença em xeque.

Esse ensaio clínico randomizado e cruzado recrutou 50 adultos saudáveis, a maioria mulheres com peso normal, e comparou dois padrões de alimentação: um com três refeições por dia (baixa frequência alimentar) e outro com seis refeições diárias (alta frequência alimentar), ambos com refeições isocalóricas, ou seja, com a mesma quantidade de calorias e nutrientes. Cada fase durou 21 dias, separadas por um período de washout de 14 dias, no qual os participantes voltavam a seus hábitos alimentares normais. A adesão ao protocolo foi excelente, com acompanhamento rigoroso por parte da equipe de pesquisa.

O objetivo era avaliar se o número de refeições por dia influenciaria biomarcadores associados ao apetite (como ghrelina, leptina e adiponectina) e à inflamação (como a proteína C reativa de alta sensibilidade, hs-CRP). Ao final do estudo, os resultados foram claros: não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Embora alguns marcadores tenham mostrado variações modestas (como um leve aumento de leptina e adiponectina no grupo de maior frequência alimentar), essas alterações não foram significativas o suficiente para sugerir um benefício real.

Além disso, o estudo explorou se a composição corporal (especialmente o percentual de gordura) poderia modificar os efeitos da frequência alimentar. Também não se observaram interações relevantes. Em outras palavras, tanto pessoas com mais quanto com menos gordura corporal responderam da mesma forma à mudança na frequência alimentar.

A força desse estudo está no controle rigoroso das variáveis: todos os participantes receberam planos alimentares padronizados com alimentos e porções equivalentes, a única diferença era o número de refeições. Isso permitiu isolar a variável “frequência alimentar” sem a interferência de outros fatores como perda de peso, mudanças na qualidade da dieta ou horários extremos de alimentação.

Apesar das limitações — como a curta duração do estudo e a predominância de indivíduos com peso normal — os achados reforçam que, ao menos em adultos saudáveis com peso estável, aumentar a frequência das refeições não melhora os biomarcadores de apetite ou inflamação. Esses resultados desafiam a noção popular de que comer mais vezes ao dia é automaticamente benéfico.

A mensagem prática é simples: não é o número de refeições que determina os resultados metabólicos, mas o que se come e em que quantidade. Estratégias nutricionais personalizadas, especialmente aquelas que consideram o comportamento alimentar e a resposta individual, são mais relevantes do que regras generalistas como “coma de 3 em 3 horas”.

Com base nesses dados, os autores concluem que mais estudos são necessários para entender melhor como padrões alimentares influenciam a saúde metabólica, especialmente em populações com sobrepeso, obesidade ou doenças metabólicas. Até lá, a recomendação deve continuar focada na qualidade da alimentação e na adequação calórica individual, e não na frequência com que se come.

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.tjnut.2024.04.029

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