Sobrevida livre de progressão por 4 anos em paciente com glioblastoma recorrente: uso exclusivo da dieta paleolítica cetogênica (PKD)

O glioblastoma multiforme é considerado o tipo mais agressivo de tumor cerebral em adultos, com uma expectativa de vida mediana inferior a 15 meses, mesmo com os tratamentos padrão que incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia. No entanto, um relato de caso documentado por pesquisadores da Paleomedicina Hungria apresenta uma exceção notável a esse prognóstico sombrio: um paciente que, após falha da oncoterapia convencional, obteve quatro anos de sobrevida livre de progressão e sem sintomas utilizando exclusivamente a dieta paleolítica cetogênica (PKD).

Histórico clínico e decisão terapêutica

O paciente, do sexo masculino, apresentava histórico de hipertensão e câncer de bexiga previamente tratado. Em janeiro de 2016, aos 52 anos, desenvolveu cefaleia severa, sendo diagnosticado com glioblastoma multiforme por ressonância magnética e biópsia. Após cirurgia subtotal e subsequente quimiorradioterapia com temozolomida, a doença recorreu em apenas sete meses. Diante dessa recidiva precoce, o paciente optou por não seguir novas sessões de quimioterapia ou radioterapia, escolhendo seguir a dieta PKD como terapia única.

Estrutura da dieta PKD

A PKD utilizada baseia-se exclusivamente em alimentos de origem animal, com proporção de gordura para proteína de 2:1 em peso. São completamente excluídos grãos, laticínios, leguminosas, óleos vegetais, adoçantes, alimentos industrializados e suplementos. No caso deste paciente, todos os vegetais também foram eliminados para maximizar o efeito terapêutico. Ele se alimentava duas vezes ao dia, consumindo carnes vermelhas e vísceras de boi e porco, com orientações de comer até a saciedade.

Evolução clínica e exames de acompanhamento

Durante os 48 meses de seguimento, o paciente realizou nove ressonâncias magnéticas, todas mostrando estabilidade tumoral, com discreta redução do cisto associado nas últimas três. A pressão arterial normalizou-se em uma semana, permitindo a retirada de medicação anti-hipertensiva. O paciente não apresentou convulsões, sintomas neurológicos ou efeitos adversos atribuíveis à dieta e manteve plena capacidade laboral.

Exames laboratoriais revelaram glicemia estável e baixa, níveis de colesterol e LDL levemente elevados, mas triglicerídeos e ácido úrico normais. A vitamina D apresentou queda ao final do período. O consumo eventual de café, contra recomendado, foi associado à elevação transitória de marcadores inflamatórios e à redução dos níveis de ferro — um efeito já documentado da cafeína.

Permeabilidade intestinal e mecanismo de ação

A hipótese dos autores é que o sucesso da PKD esteja ligado, além da cetose nutricional, à normalização da permeabilidade intestinal, um fator raramente abordado em intervenções nutricionais para câncer. Essa normalização foi confirmada por meio do teste de PEG400 após 17 meses de dieta, coincidente com um período sem consumo de café. A integridade da barreira intestinal é proposta como elemento central no controle da inflamação sistêmica e na inibição da progressão tumoral.

A literatura aponta que tratamentos oncológicos convencionais, como quimio e radioterapia, podem comprometer a barreira intestinal, potencialmente dificultando os efeitos de terapias metabólicas. A PKD, ao excluir completamente alimentos modernos como óleos vegetais, laticínios e suplementos, demonstrou ser capaz de restaurar essa integridade em múltiplos casos, incluindo doenças inflamatórias intestinais e neoplasias.

Considerações finais

Este caso representa a mais longa sobrevida livre de progressão relatada na literatura para um paciente com glioblastoma tratado exclusivamente com uma intervenção dietética, sem uso de medicamentos adicionais após a cirurgia inicial. São 48 meses sem progressão e 56 meses de sobrevida total desde o diagnóstico — um marco inédito segundo os autores.

Embora se trate de um relato de caso e, portanto, não generalizável, os resultados desafiam paradigmas atuais e reforçam a necessidade de estudos controlados que comparem diretamente a eficácia da PKD em relação às abordagens convencionais. A exclusão de todos os alimentos modernos e a restauração da função intestinal emergem como pilares promissores na abordagem metabólica do câncer.

Fonte: https://doi.org/10.20944/preprints201912.0264.v2

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