Alterações na função renal não diferem entre adultos saudáveis ​​que consomem dietas com alto teor de proteína em comparação com dietas com baixo teor de proteína ou dietas normais: uma revisão sistemática e meta-análise

A preocupação sobre os efeitos das dietas ricas em proteínas na função renal tem sido um tema controverso na área da saúde. Muitos profissionais e pacientes questionam se o consumo elevado de proteínas pode prejudicar os rins de pessoas saudáveis. Um estudo científico recente fornece evidências importantes sobre essa questão.

O Que a Pesquisa Investigou

Pesquisadores conduziram uma revisão sistemática e meta-análise para examinar os efeitos do consumo de proteínas elevadas versus proteínas normais ou baixas na função renal de adultos saudáveis. O estudo analisou dados de 28 ensaios clínicos randomizados, incluindo 1.358 participantes com idades entre 23 e 72 anos.

Critérios para Dieta Rica em Proteínas

Os pesquisadores definiram dieta rica em proteínas como aquela que atendia pelo menos um dos seguintes critérios:

  • ≥1,5 gramas de proteína por quilograma de peso corporal por dia
  • ≥20% da ingestão energética total proveniente de proteínas
  • ≥100 gramas de proteína por dia

Principais Descobertas

Taxa de Filtração Glomerular

A taxa de filtração glomerular (TFG) é um dos principais indicadores da função renal. Os resultados mostraram que:

  • Análise pós-intervenção: Houve um efeito trivial para que a TFG fosse ligeiramente mais alta após o consumo de dietas ricas em proteínas
  • Análise de mudança: Quando os pesquisadores analisaram a mudança na TFG desde o início do estudo, não houve diferença significativa entre os grupos

Resultados por Subgrupos

Participantes com Diabetes Tipo 2

Em uma análise específica de participantes com diabetes tipo 2 - grupo com maior risco de doença renal - não houve diferença na função renal entre dietas ricas em proteínas e dietas com proteína normal ou baixa.

Duração do Estudo

Os estudos variaram de 4 dias a 104 semanas, e mesmo em intervenções de longa duração, não foram observados efeitos adversos significativos na função renal.

Diferentes Populações

A análise incluiu participantes com peso normal, sobrepeso e obesos, demonstrando que os resultados são aplicáveis a diferentes grupos populacionais.

Mecanismos Fisiológicos

Reserva Funcional Renal

Os pesquisadores explicam que o aumento na TFG em resposta ao consumo de proteínas representa uma função adaptativa normal dos rins, conhecida como "reserva funcional renal". Este mecanismo permite que os rins aumentem a eliminação de resíduos quando há maior carga de solutos.

Diferença da Doença Renal

É importante distinguir entre:

  • Hiperfiltração compensatória: Ocorre em pessoas com doença renal estabelecida
  • Hiperfiltração adaptativa: Resposta normal e saudável dos rins ao aumento da carga proteica

Limitações do Estudo

Qualidade da Evidência

A avaliação GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation) classificou a qualidade da evidência como baixa a muito baixa, principalmente devido a:

  • Risco de viés de seleção pouco claro nos estudos incluídos
  • Heterogeneidade não explicada entre os estudos
  • Questões de precisão nos dados

Considerações Metodológicas

  • Muitos estudos cruzados não incluíram períodos de washout adequados
  • Alguns estudos não relataram adequadamente os métodos de randomização
  • Variação nos métodos de medição da função renal entre os estudos

Implicações Práticas

Para Profissionais de Saúde

Os resultados sugerem que profissionais podem recomendar dietas ricas em proteínas para objetivos específicos (como preservação de massa muscular, perda de peso ou hipertrofia muscular) sem preocupações significativas sobre danos renais em pessoas saudáveis.

Para a População Geral

Pessoas saudáveis que desejam consumir dietas ricas em proteínas para fins esportivos, de composição corporal ou envelhecimento saudável podem fazê-lo com segurança, baseando-se nas evidências científicas disponíveis.

Monitoramento Clínico

Embora os resultados sejam tranquilizadores, o monitoramento regular da função renal permanece importante, especialmente em pessoas com fatores de risco para doença renal.

Contexto Científico Mais Amplo

Posicionamentos de Organizações

Os resultados do estudo estão alinhados com as declarações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto de Medicina sobre consumo de proteínas e função renal.

Evidências de Segurança

  • Nenhum estudo incluído na meta-análise demonstrou evidências de dano renal em pessoas saudáveis
  • A maioria dos estudos que avaliaram excreção de albumina (marcador de dano renal) não encontrou diferenças entre grupos
  • Estudos em animais também não mostraram marcadores de dano renal com dietas ricas em proteínas

Considerações Especiais

Populações de Risco

Para pessoas com doença renal crônica estabelecida, as recomendações podem ser diferentes. Atualmente, as diretrizes sugerem não exceder 1,3 gramas de proteína por quilograma de peso corporal por dia nessa população.

Hidratação Adequada

Embora não seja o foco principal do estudo, manter hidratação adequada permanece importante quando se consome dietas ricas em proteínas.

Conclusões

Esta meta-análise robusta fornece evidências de que dietas ricas em proteínas não afetam adversamente a função renal em adultos saudáveis. Os pesquisadores concluem que não existe efeito ou há apenas um efeito trivial do consumo elevado de proteínas na TFG em indivíduos com função renal normal.

Dados os benefícios propostos das dietas ricas em proteínas para promoção da hipertrofia muscular durante o treinamento de resistência, perda de peso de qualidade durante restrição energética e manutenção da massa muscular com o envelhecimento, a descoberta de que essas dietas não afetam negativamente a função renal tem relevância clínica significativa.

Perspectivas Futuras

Os pesquisadores recomendam que futuros estudos sobre proteínas e função renal incluam medições antes e depois das intervenções, utilizem métodos de randomização adequados e relatem claramente todos os aspectos metodológicos para minimizar o risco de viés.

Fonte: https://doi.org/10.1093/jn/nxy197

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