O jejum intermitente virou uma estratégia popular para emagrecimento e controle metabólico. Porém, ao reduzir o tempo (ou os dias) disponíveis para comer, existe um risco prático: a pessoa pode até comer menos calorias, mas também acabar consumindo menos vitaminas e minerais importantes. Uma revisão narrativa publicada em 2025 analisou exatamente esse ponto: como diferentes formas de jejum intermitente podem afetar a ingestão de micronutrientes em adultos.
O que são micronutrientes e por que eles “somem” em dietas
Micronutrientes são vitaminas e minerais necessários em pequenas quantidades, mas com funções essenciais: participam do metabolismo energético, do sistema imune, do funcionamento hormonal e ajudam a manter massa magra durante perda de peso. A revisão destaca que, em dietas restritivas e/ou longos períodos com menos calorias, a ingestão desses nutrientes pode cair e comprometer a adesão e a segurança do plano alimentar.
Quais tipos de jejum foram avaliados
A revisão agrupa o jejum intermitente em dois formatos principais:
- Jejum em dias alternados (JDA): alternância entre “dia de jejum” e “dia livre”. No “dia de jejum”, pode ser jejum total (zero calorias) ou consumo bem reduzido (por exemplo, ~25% das calorias do dia).
- Alimentação com tempo restrito (ATR): a pessoa come dentro de uma “janela” diária (por exemplo, 4 a 8 horas) e fica em jejum no restante do dia, geralmente com água e bebidas sem calorias.
O que os estudos observaram na prática
A síntese feita pela revisão aponta um padrão recorrente: em alguns ensaios clínicos, JDA e ATR foram associados a redução na ingestão de micronutrientes como cálcio, magnésio, potássio, folato, vitamina C e vitaminas do complexo B. O motivo principal não é “misterioso”: em dias de jejum ou janelas menores, a ingestão total de energia costuma cair e, junto com ela, pode cair também o consumo de alimentos mais ricos em micronutrientes.
Ao mesmo tempo, a revisão também descreve que nem todos os estudos encontram piora clara quando se compara jejum intermitente com restrição calórica contínua, especialmente quando a qualidade da alimentação é bem orientada e mantida. Ou seja, os resultados variam conforme o desenho do estudo, o quanto as pessoas seguem o protocolo, o padrão alimentar adotado e se houve (ou não) aconselhamento nutricional.
Um ponto-chave: “janela menor” exige mais qualidade
A mensagem central da revisão é direta: o jejum intermitente pode funcionar para perda de peso e ser flexível, mas pode comprometer micronutrientes se a qualidade alimentar não for prioridade. Por isso, o artigo enfatiza a importância de escolhas mais densas em nutrientes durante os períodos de alimentação e relata que suplementos podem ser necessários em protocolos mais restritivos ou prolongados, dependendo do caso e do que a pessoa está conseguindo atingir na dieta.
O que essa evidência permite concluir
Com base no que a revisão reuniu, o quadro fica assim:
- Há sinais consistentes em alguns ensaios de queda na ingestão de micronutrientes com JDA/ATR.
- Não é uma regra universal: quando há orientação e boa qualidade alimentar, alguns estudos não mostram diferenças relevantes em adequação de micronutrientes versus restrição contínua.
- O risco parece maior quando a estratégia reduz demais a ingestão total e piora o padrão alimentar, especialmente nos dias de jejum.
A própria revisão ressalta que a evidência ainda é limitada e heterogênea, reforçando que acompanhamento profissional tende a ser importante para adequar a dieta (e, quando necessário, suplementação) ao contexto individual.
Fonte: https://doi.org/10.1097/MCO.0000000000001148
*Leia o artigo completo na newsletter
