Revisão da segurança e eficácia de uma dieta cetogênica com pouco carboidrato em pessoas com insuficiência cardíaca e excesso de peso


A insuficiência cardíaca é uma condição em que o coração perde parte da sua capacidade de bombear sangue de maneira eficiente. Esse problema muitas vezes anda junto com excesso de peso e obesidade, aumentando ainda mais os riscos para o paciente. Diante disso, pesquisadores decidiram avaliar se uma dieta cetogênica de baixo carboidrato poderia ser uma estratégia segura e útil para melhorar a saúde desse grupo.

O estudo analisou prontuários de 125 pacientes acompanhados entre 2006 e 2024 em uma clínica universitária de perda de peso nos Estados Unidos. Todos tinham insuficiência cardíaca e obesidade. Dentro desse grupo, havia pessoas com fração de ejeção reduzida (quando o coração não consegue bombear o sangue adequadamente) e pessoas com fração de ejeção preservada (quando o bombeamento parece normal, mas o músculo cardíaco está mais rígido). O acompanhamento médio foi de dois anos.

A dieta usada foi uma versão prática da cetogênica, com redução importante de carboidratos e maior consumo de proteínas e gorduras, ajustada ao cotidiano dos pacientes. O grau de adesão variava: alguns seguiam estritamente, outros de forma parcial.

Principais achados do estudo

  • Perda de peso relevante: em média, os participantes perderam 11 kg, diminuíram o índice de massa corporal (IMC) e reduziram a circunferência da cintura em cerca de 10 cm.
  • Melhora no perfil lipídico: houve aumento do HDL (colesterol de maior proteção cardiovascular) e redução dos triglicerídeos. O LDL e o colesterol total não apresentaram piora significativa.
  • Controle do diabetes: quase metade dos pacientes com diabetes tipo 2 conseguiu reduzir a dose de insulina, mostrando impacto direto na regulação da glicemia.
  • Fígado e rins: as enzimas hepáticas (AST e ALT) melhoraram discretamente em alguns pacientes, especialmente nos com fração de ejeção preservada. As alterações nos exames renais foram mínimas.
  • Função do coração: a fração de ejeção medida pelo ecocardiograma não mudou de forma significativa, mas o dado mais importante foi clínico: as internações por insuficiência cardíaca caíram pela metade durante o período em que os pacientes estavam na dieta, em comparação ao ano anterior. Esse efeito foi mais claro nos pacientes com fração de ejeção preservada.
  • Mortalidade: ao longo do acompanhamento, o número de óbitos foi baixo, sem diferença marcante entre os tipos de insuficiência cardíaca.

O que esses resultados mostram

A pesquisa indica que a dieta cetogênica de baixo carboidrato, quando feita com orientação médica e acompanhamento contínuo, pode ser uma alternativa segura para pessoas com insuficiência cardíaca e obesidade. Além de promover perda de peso significativa, ela ajudou a melhorar marcadores metabólicos e reduziu o risco de internações hospitalares.

Um ponto importante é que o temido aumento do colesterol LDL não foi observado, contrariando uma das maiores preocupações associadas a esse tipo de dieta. Ao mesmo tempo, houve ganho em indicadores de saúde como o HDL e os triglicerídeos.

Limitações

Os próprios autores ressaltam que se trata de um estudo observacional retrospectivo, ou seja, baseado em revisão de prontuários já existentes. Esse tipo de análise não permite afirmar com certeza que a dieta, isoladamente, foi a responsável por todas as melhorias observadas. Outros fatores, como adesão ao tratamento e mudanças no estilo de vida, também podem ter influenciado.

Por isso, os pesquisadores recomendam que sejam feitos ensaios clínicos controlados e randomizados, mais rigorosos, para confirmar os benefícios e entender melhor os mecanismos pelos quais a dieta pode ajudar o coração.

Conclusão

Em resumo, este estudo reforça que a dieta cetogênica de baixo carboidrato pode ser uma estratégia promissora para pacientes com insuficiência cardíaca e obesidade, trazendo resultados positivos na perda de peso, nos exames de sangue e na redução de hospitalizações, sem evidência de agravamento do colesterol. Quando feita com supervisão adequada, ela pode oferecer ganhos reais na saúde desse público.

Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S3050661125000371

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