A obesidade é um dos principais fatores que dificultam a fertilidade feminina. Mulheres com excesso de peso frequentemente apresentam alterações hormonais e resistência à insulina, o que pode comprometer a qualidade dos óvulos, dificultar a implantação do embrião e aumentar os riscos de complicações na gestação. Além disso, mesmo quando recorrem a tratamentos como a fertilização in vitro (FIV), as chances de sucesso costumam ser menores.
Um estudo recente, conduzido na Itália e publicado na revista Nutrients, investigou se uma dieta cetogênica de baixíssimas calorias (VLCKD, do inglês very-low calorie ketogenic diet) poderia ajudar mulheres com sobrepeso ou obesidade que estavam prestes a iniciar um tratamento de FIV. O objetivo era avaliar não apenas a perda de peso, mas também os efeitos sobre a fertilidade.
Como foi feito o estudo
O protocolo envolveu 52 mulheres com infertilidade e excesso de peso. Dessas, 40 iniciaram a dieta, que foi estruturada em três fases:
- Fase cetogênica (3 meses): menos de 800 kcal por dia, com pouquíssimos carboidratos e uso de substitutos de refeição ricos em proteínas.
- Fase de transição (6 meses): reintrodução gradual de carboidratos de baixo índice glicêmico.
- Fase de manutenção (12 meses): dieta no estilo mediterrâneo, mais equilibrada.
Durante o acompanhamento, foram avaliados peso, composição corporal, exames de sangue e evolução da fertilidade.
Principais resultados
- Perda de peso significativa: 68% das mulheres que iniciaram a dieta perderam pelo menos 10% do peso corporal em três meses, sem reduzir a massa magra.
- Melhora nos exames: houve redução da glicose, insulina, colesterol, triglicerídeos e enzimas do fígado.
- Taxa de gravidez elevada: entre as mulheres que fizeram a dieta, 58% engravidaram — sendo 11 de forma natural e 12 por FIV. Esse número é bastante superior ao normalmente observado em mulheres com obesidade.
- Segurança: não foram relatados efeitos adversos graves. Apenas sintomas leves, como dor de cabeça passageira ou prisão de ventre, foram mencionados.
O que isso significa
A pesquisa sugere que a VLCKD pode ser uma estratégia eficaz para melhorar as condições metabólicas e aumentar as chances de gravidez em mulheres com excesso de peso que enfrentam infertilidade. A perda de gordura, especialmente na região abdominal, aliada à melhora da sensibilidade à insulina, pode restaurar o equilíbrio hormonal e favorecer tanto a concepção natural quanto os resultados da FIV.
Apesar dos achados promissores, os autores ressaltam que o estudo foi observacional e envolveu um grupo relativamente pequeno. Por isso, ainda são necessários ensaios clínicos maiores e controlados para confirmar esses benefícios.
Em resumo, a preparação com uma dieta cetogênica de baixíssimas calorias pode representar uma oportunidade importante para mulheres com obesidade que aguardam tratamento de fertilidade, melhorando não apenas a saúde geral, mas também aumentando as chances de realização do desejo de engravidar.
Fonte: https://doi.org/10.3390/nu17182930
