No início do século XX, a úlcera simples do estômago era um dos temas mais discutidos nos manuais médicos. Em obras de referência, como A System of Medicine, organizada por Allbutt e Rolleston, o assunto recebia atenção detalhada. Ali, a úlcera era descrita como uma ferida localizada na mucosa do estômago, capaz de provocar dor após as refeições, queimação e, em casos mais graves, sangramentos.
Naquele tempo, ainda não se conhecia a bactéria Helicobacter pylori, descoberta muitas décadas depois como a principal responsável pela doença. Por isso, os médicos formulavam várias hipóteses para tentar explicar o problema. Uns acreditavam que o excesso de ácido no estômago era o grande vilão. Outros defendiam que falhas na circulação sanguínea local deixariam a mucosa enfraquecida e vulnerável. Havia também quem associasse a úlcera ao consumo de álcool, tabaco e alimentos irritativos. Além disso, estados de anemia, desnutrição e infecções crônicas eram vistos como fatores que poderiam agravar a condição.
Apesar das incertezas sobre as causas, havia consenso em um ponto: a alimentação era parte fundamental do tratamento. E, nesse aspecto, os alimentos de origem animal ocupavam lugar central. Carnes, ovos e peixes eram recomendados como fontes de proteínas de alta qualidade, indispensáveis para a reparação da mucosa. As carnes vermelhas e vísceras eram valorizadas pelo ferro heme, fundamental para prevenir ou corrigir a anemia causada por pequenos sangramentos. A vitamina B12, presente apenas em alimentos animais, era considerada essencial para manter a vitalidade e a saúde do sangue. Minerais como o zinco, abundantes em carnes e frutos do mar, eram apontados como aliados no processo de cicatrização. Até mesmo caldos preparados com ossos e cartilagens tinham seu espaço, vistos como leves, nutritivos e ricos em colágeno, capazes de proteger e fortalecer a parede do estômago.
Os vegetais também eram mencionados, mas de forma mais cautelosa. Legumes cozidos e bem preparados eram aceitos como opções leves e de fácil digestão. Já vegetais crus e muito fibrosos eram frequentemente evitados, por receio de irritarem ainda mais a mucosa sensível. Assim, os alimentos de origem animal eram vistos como protagonistas no processo de recuperação, enquanto os vegetais tinham um papel secundário, desde que em preparações suaves.
A história mostra como o conhecimento médico evoluiu. Hoje se sabe que a H. pylori e o uso prolongado de anti-inflamatórios são os principais fatores envolvidos no aparecimento da úlcera. Mas o valor nutricional atribuído aos alimentos animais na literatura clássica continua atual: eles fornecem os elementos que o corpo precisa para reparar tecidos, manter a produção de sangue saudável e fortalecer o organismo.
No passado, essa importância era reconhecida por observação clínica; hoje, é confirmada pela ciência. Em ambos os casos, a presença dos alimentos de origem animal se manteve como parte essencial na recuperação do paciente com úlcera.
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