O glioblastoma é o tipo mais grave de tumor cerebral. Mesmo com cirurgia, radioterapia e quimioterapia, a maioria dos pacientes sobrevive apenas um ou dois anos após o diagnóstico. Uma das explicações para essa gravidade é a forma como as células do tumor usam o açúcar (glicose) de maneira diferente do cérebro saudável.
Como o cérebro normal usa o açúcar
Em condições normais, o cérebro precisa de glicose para produzir energia. Esse combustível é fundamental para manter a atividade cerebral e também serve para fabricar neurotransmissores, substâncias que permitem a comunicação entre os neurônios. É esse processo que sustenta funções como memória, pensamento e movimento.
Como o glioblastoma desvia o açúcar
Nos glioblastomas, o mesmo açúcar é aproveitado de outro jeito. Em vez de ser transformado em energia ou neurotransmissores, a glicose é desviada para produzir DNA e RNA. Esses blocos de construção permitem que o tumor se multiplique rapidamente e invada os tecidos vizinhos.
É como se o cérebro normal usasse o açúcar como combustível para pensar, enquanto o tumor usasse o mesmo açúcar como “tijolos” para levantar mais paredes e crescer sem parar.
O papel da serina e da glicina
Outro achado importante é que o cérebro normal consegue fabricar aminoácidos como serina e glicina a partir da glicose. Já os tumores desligam essa rota interna e passam a captá-los diretamente do sangue. Essa dependência cria um ponto frágil, já que os tumores ficam muito vulneráveis se esses nutrientes não estiverem disponíveis em quantidade suficiente.
O que mostraram os estudos em animais
Os pesquisadores testaram dietas especiais em camundongos com glioblastoma. Quando os animais foram alimentados com menos serina e glicina, os resultados foram claros:
- O crescimento do tumor ficou mais lento.
- A radioterapia e a quimioterapia funcionaram melhor.
Essas descobertas indicam que a combinação entre ajustes na dieta e tratamento convencional pode aumentar a eficácia contra o glioblastoma.
Próximos passos na pesquisa
Com base nessas observações, os cientistas desenvolveram também modelos matemáticos para rastrear o caminho da glicose no organismo. Essa ferramenta pode ajudar a identificar outros pontos de ataque no metabolismo do tumor.
O objetivo agora é avançar para ensaios clínicos em pacientes, a fim de avaliar se dietas que reduzem serina e glicina realmente podem melhorar os resultados do tratamento em seres humanos.
Em resumo, o estudo mostra que os glioblastomas crescem de forma tão agressiva porque conseguem reprogramar o uso do açúcar. Enquanto o cérebro saudável usa glicose para energia e funcionamento, o tumor desvia esse recurso para fabricar mais células. Descobrir essa diferença é um passo importante para criar terapias que explorem os pontos fracos do câncer e ofereçam novas alternativas de tratamento.
Fonte: https://doi.org/10.1038/s41586-025-09460-7

