A insuficiência cardíaca (IC) é uma condição que frequentemente vem acompanhada de perda muscular (sarcopenia ou caquexia), desnutrição e redução da capacidade funcional, tornando essencial investigar intervenções nutricionais que possam ajudar esses pacientes a melhorar sua saúde e qualidade de vida. Neste contexto, uma revisão sistemática publicada recentemente explorou os efeitos de dietas ricas em proteínas para pessoas com IC, reunindo as evidências mais atuais sobre o tema.
A análise incluiu dez estudos clínicos envolvendo mais de mil pacientes, com foco especial nas intervenções que aumentaram a ingestão de proteínas acima de 1,1 g/kg/dia, chegando até 1,5 g/kg/dia em alguns casos — valores superiores à recomendação habitual para adultos saudáveis. O objetivo foi verificar se este aumento teria impacto positivo em indicadores clínicos e funcionais.
Benefícios observados
Entre os pontos positivos mais relevantes identificados pela revisão destacam-se:
1. Melhora na capacidade funcional
Os participantes que seguiram dietas ricas em proteínas apresentaram aumento médio de 32 metros no teste de caminhada de seis minutos, resultado que ultrapassa o limiar considerado clinicamente relevante (25 metros). Essa melhora significa maior autonomia e disposição para atividades do dia a dia.
2. Ganho de massa magra
Houve ganho médio de 1,6 kg em massa magra, ajudando a combater a sarcopenia e a perda muscular associada à IC, o que é especialmente importante para a preservação da força e da independência funcional.
3. Qualidade de vida aprimorada
A revisão relatou um aumento de cerca de 9% nos escores de qualidade de vida dos pacientes que receberam suplementação proteica ou dietas enriquecidas em proteínas. Isso reflete benefícios percebidos diretamente pelas pessoas em relação ao bem-estar físico e emocional.
4. Redução de hospitalizações
Dois estudos incluídos apontaram para uma redução de 18% nas readmissões hospitalares por IC, indicando que o suporte nutricional pode ajudar a estabilizar a condição clínica e evitar internações frequentes.
5. Redução da mortalidade em casos de maior risco
Em um dos estudos, pacientes desnutridos que receberam suplementos proteicos tiveram uma redução de 50% na mortalidade em comparação com aqueles que receberam apenas cuidados habituais. Este é um achado de grande relevância, mostrando que a intervenção nutricional pode ter impacto direto na sobrevida.
6. Melhoria em marcadores laboratoriais
Os estudos também mostraram aumento de albumina sérica e hemoglobina nos pacientes suplementados, sugerindo recuperação do estado nutricional e melhora no perfil metabólico.
7. Segurança no curto prazo
Apesar de algumas preocupações históricas sobre o impacto da dieta rica em proteínas na função renal de pessoas com IC, a revisão não encontrou evidências de deterioração renal em curto prazo nos pacientes estudados. Isso reforça a viabilidade do aumento proteico quando monitorado adequadamente.
Perspectivas para a prática clínica
A revisão sustenta que a ingestão adequada de proteínas é uma estratégia promissora e segura, especialmente para pacientes com IC que já apresentam desnutrição, perda de peso involuntária ou sinais de sarcopenia. As diretrizes atuais já recomendam cerca de 1,1 a 1,5 g/kg/dia para esse público, sendo necessário considerar suplementação quando a alimentação habitual não atinge esses valores.
Outro ponto importante destacado é que os efeitos mais significativos das dietas ricas em proteínas parecem ocorrer quando associados a programas de reabilitação e exercício físico supervisionado, o que potencializa os ganhos funcionais e metabólicos.
Conclusão
Embora a qualidade das evidências ainda seja considerada moderada, principalmente devido ao tamanho reduzido dos estudos e à diversidade metodológica, os resultados disponíveis apontam benefícios consistentes das dietas ricas em proteínas para pacientes com IC. Ganhos em capacidade funcional, composição corporal, qualidade de vida e até redução de mortalidade e hospitalizações sugerem que esta estratégia pode ser um componente valioso no manejo multidisciplinar da doença.
É importante, no entanto, que estas intervenções sejam aplicadas com acompanhamento especializado, considerando as necessidades individuais de cada paciente, especialmente aqueles com doenças renais concomitantes.
A revisão conclui que novos estudos de maior porte e com acompanhamento prolongado são necessários para confirmar e refinar as recomendações sobre dose ideal, tipos de proteínas e combinações mais eficazes com programas de reabilitação.
