Em tempos de crescente interesse por dietas que excluem alimentos de origem animal, compreender o impacto dessas escolhas alimentares na saúde da população tornou-se relevante. Um estudo recente, publicado na revista Public Health Nutrition, buscou preencher lacunas importantes nesse tema ao analisar dados da European Health Interview Survey (EHIS) da Espanha, representando mais de 22 mil adultos residentes no país.
Prevalência e características de quem segue dietas à base de plantas
A pesquisa revelou que apenas 5,62 por mil habitantes na Espanha seguem uma dieta à base de plantas, sendo 1,31 por mil veganos e 4,31 por mil vegetarianos. Essas pessoas são predominantemente mulheres (68,6%), mais jovens (idade média de 42 anos), solteiras e com maior escolaridade e renda. Regionalmente, as maiores prevalências foram registradas no nordeste da Espanha, especialmente na Catalunha, Comunidade Valenciana e País Basco, enquanto o centro e o sul apresentaram as menores taxas.
Os dados mostraram que os adeptos dessas dietas consomem mais legumes, verduras e leguminosas, e evitam com maior frequência fast food, snacks e doces. No entanto, a ingestão de alimentos ricos em carboidratos como pão, cereais, arroz, massas e batatas também foi elevada entre vegetarianos e veganos.
Estilo de vida e hábitos de saúde
Um aspecto central deste estudo foi o rigor metodológico ao comparar vegetarianos e veganos com onívoros de perfil sociodemográfico semelhante. Após esse ajuste, as diferenças em estilo de vida desapareceram: níveis de atividade física, consumo de álcool e tabaco foram semelhantes entre os grupos, desafiando a ideia de que vegetarianos e veganos seriam necessariamente mais "saudáveis" por adotarem outros hábitos protetores.
Doenças crônicas e percepção de saúde
Os autores analisaram a associação entre a dieta à base de plantas e diversas condições de saúde. Não foram observadas diferenças significativas no risco de doenças como hipertensão, diabetes, colesterol alto ou câncer. No entanto, destacaram-se duas associações estatisticamente relevantes:
- Maior prevalência de sintomas depressivos: vegetarianos e veganos apresentaram quase 2,6 vezes mais chance de relatar sintomas de depressão (OR ajustado 2,58; IC 95% 1,00–6,65).
- Maior risco de acidente vascular cerebral (AVC): o risco de AVC foi mais de sete vezes maior entre os vegetarianos e veganos (OR ajustado 7,08; IC 95% 1,27–39,46), embora essa estimativa apresente ampla incerteza por conta do baixo número de casos.
Além disso, vegetarianos e veganos tiveram maior frequência de consultas com profissionais de saúde mental e praticantes de medicina complementar (naturopatas, acupunturistas, homeopatas), mesmo sem diferenças em consultas com médicos generalistas ou especialistas em geral.
Interpretação dos achados
É importante destacar que o estudo não demonstra causalidade. Ou seja, não se pode afirmar que a dieta à base de plantas causa depressão ou aumenta o risco de AVC. As associações observadas podem ser explicadas por outros fatores não medidos, como preexistência de problemas de saúde mental que motivaram mudanças dietéticas. Além disso, o pequeno número de casos e a base nos dados autorreferidos exigem cautela.
Estudos anteriores já sugeriram uma ligação entre dietas vegetarianas e maior prevalência de transtornos depressivos, possivelmente relacionados a fatores nutricionais, como menor ingestão de nutrientes específicos (por exemplo, vitamina B12), ou ainda a características psicossociais dos indivíduos que adotam tais dietas.
Sobre o risco de AVC, a literatura científica é inconclusiva. Enquanto algumas pesquisas indicam risco reduzido entre vegetarianos, outras apontam aumento de risco ou não encontram associação. No presente estudo espanhol, o pequeno tamanho amostral torna difícil generalizar essa relação.
Implicações práticas
Os resultados reforçam a necessidade de evitar generalizações sobre a superioridade de uma dieta simplesmente por ser "plant-based". A boa saúde e o bem-estar mental dependem de múltiplos fatores, entre eles um planejamento nutricional cuidadoso, adequado às necessidades individuais.
Portanto, profissionais de saúde devem priorizar recomendações personalizadas, considerando o contexto cultural, econômico e de saúde de cada paciente, em vez de promover indiscriminadamente dietas vegetarianas ou veganas como mais saudáveis. Também se destaca a importância de orientar quem opta por excluir alimentos de origem animal a fazê-lo com atenção a potenciais deficiências nutricionais.
Conclusão
O estudo mostrou que dietas à base de plantas ainda são pouco comuns na Espanha e que seus adeptos tendem a ser mais jovens, mulheres, solteiras e com maior escolaridade e renda. Quando comparados a onívoros de perfil semelhante, vegetarianos e veganos apresentaram hábitos de vida similares, mas maior prevalência de sintomas depressivos e maior frequência de consultas de saúde mental.
Esses achados ressaltam que padrões dietéticos, por si só, não são garantia de saúde física ou mental. A promoção da saúde deve focar comportamentos saudáveis e orientação nutricional de qualidade, respeitando a individualidade de cada pessoa.
