Eficácia do Jejum Intermitente no Manejo da Psoríase Crônica em Placas: Um Estudo Clínico Fase IIb


A psoríase é uma doença inflamatória crônica que afeta entre 1% a 3% da população geral, com prevalência no Brasil variando entre 0,44% a 2,8%. Esta condição autoimune caracteriza-se por lesões cutâneas em forma de placas avermelhadas e descamativas, podendo estar associada a comorbidades cardiovasculares, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e artrite psoriásica.

Recentemente, pesquisadores tem investigado medidas dietéticas como terapias adjuvantes no tratamento da psoríase. Entre estas estratégias, o jejum intermitente (JI) tem ganhado destaque como uma possível intervenção benéfica para pacientes com esta condição.

O que é o Jejum Intermitente?

O jejum intermitente é um padrão alimentar no qual a energia não é consumida por um período fixo de tempo, resultando em uma mudança metabólica do uso de glicose derivada do fígado para cetonas derivadas do tecido adiposo. O protocolo mais comum é o 16:8, onde 16 horas correspondem ao período de jejum e 8 horas ao período de alimentação.

Metodologia do Estudo

Um estudo clínico randomizado conduzido entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022 avaliou a eficácia do jejum intermitente em 120 pacientes com psoríase crônica em placas severa. Os participantes foram divididos em dois grupos:

  • Grupo 1: 60 pacientes recebendo apenas metotrexato
  • Grupo 2: 60 pacientes recebendo metotrexato combinado com jejum intermitente protocolo 16:8

Principais Resultados

Melhora da Severidade da Psoríase

Após 16 semanas de tratamento, ambos os grupos apresentaram melhora significativa:

  • Grupo 1: 73,3% dos pacientes atingiram redução de 50% no índice PASI (PASI50)
  • Grupo 2: 78,3% dos pacientes atingiram PASI50

Manutenção da Melhora

O diferencial do jejum intermitente tornou-se mais evidente na fase de manutenção. Após 28 semanas:

  • Grupo 1: apenas 36% mantiveram a resposta PASI50
  • Grupo 2: 54,4% mantiveram a resposta PASI50

Esta diferença sugere que o jejum intermitente pode auxiliar na manutenção da remissão após a descontinuação do tratamento sistêmico.

Benefícios Metabólicos

O grupo que praticou jejum intermitente apresentou melhorias significativas em diversos parâmetros:

Redução de peso e medidas corporais:

  • Diminuição estatisticamente significativa do peso corporal
  • Redução da circunferência abdominal

Melhora dos marcadores inflamatórios:

  • Redução dos níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade (PCR-as)
  • Diminuição da interleucina-6 (IL-6)
  • Redução do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF)

Mecanismos de Ação

Os benefícios do jejum intermitente na psoríase podem ser explicados por diversos mecanismos:

Mudança Metabólica

Durante o jejum, ocorre uma transição do metabolismo da glicose para a utilização de corpos cetônicos, o que ativa fatores de transcrição específicos e reduz a atividade da via mTOR, promovendo a autofagia celular.

Modulação Imunológica

O jejum intermitente modifica o perfil de citocinas, reduzindo citocinas pró-inflamatórias como IL-1, IL-6 e TNF-α, que estão envolvidas na patogênese da psoríase.

Melhora da Resistência ao Estresse

A prática regular do jejum intermitente melhora os mecanismos de reparo celular e aumenta a resistência ao estresse oxidativo.

Segurança e Tolerabilidade

O estudo demonstrou que o protocolo 16:8 de jejum intermitente é seguro e bem tolerado. Nenhum dos participantes relatou efeitos adversos graves relacionados à prática do jejum.

Implicações Clínicas

Para Profissionais de Saúde

Os resultados sugerem que o jejum intermitente pode ser considerado como uma terapia adjuvante segura e eficaz no manejo da psoríase crônica em placas severa, especialmente para:

  • Manutenção da remissão após tratamento sistêmico
  • Melhora de parâmetros metabólicos
  • Redução de marcadores de inflamação vascular

Considerações Importantes

É fundamental que a implementação do jejum intermitente seja:

  • Supervisionada por profissionais de saúde qualificados
  • Individualizada conforme as necessidades de cada paciente
  • Contraindicada em casos de diabetes mellitus descontrolado
  • Acompanhada de orientação nutricional adequada

Limitações do Estudo

Os pesquisadores reconhecem algumas limitações importantes:

  • Tamanho amostral relativamente pequeno
  • Perda de seguimento de alguns participantes
  • Possível viés de seleção devido aos critérios rigorosos de inclusão

Conclusões

O jejum intermitente utilizando o protocolo 16:8 demonstrou ser uma intervenção dietética promissora como terapia adjuvante no tratamento da psoríase crônica em placas severa. Os benefícios observados incluem:

  • Auxílio na manutenção da remissão clínica
  • Melhora de parâmetros metabólicos
  • Redução de marcadores de inflamação vascular
  • Boa tolerabilidade e segurança

Embora os resultados sejam encorajadores, são necessários estudos adicionais com amostras maiores e períodos de seguimento mais longos para confirmar estes achados e estabelecer diretrizes clínicas mais específicas.

Perspectivas Futuras

Esta pesquisa abre caminho para investigações futuras sobre:

  • Outros protocolos de jejum intermitente na psoríase
  • Mecanismos moleculares específicos envolvidos
  • Combinação com outras terapias dietéticas
  • Aplicação em diferentes tipos e severidades de psoríase

Fonte: https://doi.org/10.4103/idoj.idoj_635_24

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