O crescimento das dietas baseadas em plantas
As dietas baseadas em plantas, caracterizadas por quantidades limitadas de alimentos de origem animal, estão sendo cada vez mais promovidas tanto para sustentabilidade quanto para saúde. No Reino Unido, dados recentes mostram que cerca de 14% dos adultos se identificam como flexitarianos, com esse número subindo para 17% entre mulheres adultas. A popularidade crescente dessas dietas também pode ser demonstrada através do aumento no número de pessoas que aderem ao "Veganuary" - período onde uma dieta vegana é seguida durante janeiro - com um aumento de 320% nos cinco anos entre 2018 e 2023.
A importância dos alimentos de origem animal para micronutrientes
Dietas predominantemente baseadas em plantas podem ter a consequência não intencional de reduzir a ingestão de certos micronutrientes. No Reino Unido, leite e produtos lácteos contribuem com aproximadamente um terço da ingestão total de cálcio, vitamina B12 e iodo em adultos.
Os dados nutricionais demonstram que uma única porção de leite (200g) fornece 43% do iodo, 33% do cálcio, 40% da riboflavina e 107% das recomendações de vitamina B12 para uma mulher adulta. Da mesma forma, um ovo fornece 19% do iodo, 23% do selênio e da vitamina B2, além de 83% das recomendações de vitamina B12.
Micronutrientes em risco em dietas baseadas em plantas
Pesquisas sistemáticas revelam que, comparado aos consumidores de carne, aqueles que seguem dietas baseadas em plantas apresentam maior ingestão de folato, vitamina C, vitamina E e magnésio, mas menor ingestão de vitaminas B12 e D, ferro, zinco e cálcio. Uma meta-análise específica mostrou que veganos tinham ingestão de iodo 62,3 μg/dia menor que o grupo onívoro.
Os nutrientes identificados como particularmente vulneráveis em dietas baseadas em plantas incluem:
- Iodo: Especialmente crítico, pois produtos lácteos contribuem com 51% da ingestão total em crianças e 33% em adultos no Reino Unido
- Vitamina B12: Sem fontes vegetais confiáveis
- Cálcio: Embora presente em vegetais, a biodisponibilidade pode ser menor
- Ferro: O ferro não-heme de plantas tem absorção mais variável
- Zinco: Menos biodisponível em fontes vegetais
- Riboflavina (Vitamina B2): Frequentemente negligenciada nas discussões sobre nutrição vegana
Populações vulneráveis: mulheres em idade reprodutiva
A preocupação é particularmente importante para mulheres em idade reprodutiva, que são o grupo mais propenso a substituir produtos lácteos por alternativas vegetais. Dados mostram que 28% das meninas de 11-18 anos e 12% das mulheres de 19-64 anos já apresentam ingestão abaixo do valor de referência mais baixo para iodo.
Durante a gravidez, a deficiência de iodo é especialmente preocupante, pois é essencial para a produção de hormônios da tireoide necessários para o desenvolvimento cerebral e neurológico fetal. Estudos demonstram que mesmo deficiência leve a moderada de iodo no início da gravidez está associada a QI mais baixo e pontuações de leitura reduzidas em crianças aos 8-9 anos.
O problema das alternativas vegetais não fortificadas
Um aspecto crítico é que muitas alternativas vegetais ao leite não são fortificadas adequadamente. Uma pesquisa no mercado britânico mostrou que apenas 20% das alternativas ao leite eram fortificadas com iodo, comparado a 63% fortificadas com cálcio. As alternativas não fortificadas têm concentração de iodo correspondente a apenas 2% daquela do leite de vaca do Reino Unido.
Modelagens dietéticas demonstram que a substituição completa do leite de vaca por alternativas vegetais não fortificadas aumentaria significativamente o risco de insuficiência de iodo, aumentando a proporção de pessoas com ingestão abaixo do valor de referência de 20% para 48% em crianças e mulheres jovens.
Soluções potenciais
Educação e consciência
Uma das principais preocupações é a falta de consciência entre consumidores sobre o papel dos alimentos de origem animal na provisão de micronutrientes. Pesquisas mostram que 64% das mulheres grávidas nunca tinham ouvido falar de iodo, comparado a apenas 11% que não conheciam cálcio.
Fortificação aprimorada de produtos alternativos
A indústria alimentar poderia expandir a fortificação de produtos baseados em plantas para incluir não apenas cálcio, mas também iodo, vitamina B12 e riboflavina. Estudos de modelagem sugerem que alternativas ao leite deveriam ser fortificadas com ≥22,5 e <45 μg de iodo/100ml para evitar impacto negativo na ingestão populacional.
Fortificação de alimentos básicos
Alguns países, como Austrália, Nova Zelândia, Holanda e Bélgica, já fortificam pão com iodo através do uso de sal iodado na fabricação. Esta abordagem poderia ser explorada em países que atualmente dependem principalmente de produtos animais como fonte de iodo.
Suplementação adequada
Para alguns nutrientes, pode ser necessário que consumidores de dietas predominantemente baseadas em plantas tomem suplementos multivitamínicos adequados contendo pelo menos iodo e vitamina B12. A Vegan Eatwell Guide do Reino Unido recomenda que veganos suplementem com vitamina D, vitamina B12, selênio e iodo.
Conclusões importantes
As dietas baseadas em plantas requerem planejamento cuidadoso para evitar deficiências de micronutrientes. É especialmente importante considerar nutrientes frequentemente negligenciados como iodo e riboflavina, particularmente em países sem programas nacionais de fortificação.
Para mulheres em idade reprodutiva - grupo mais propenso a adotar essas dietas - o planejamento nutricional adequado é crucial para prevenir deficiências que podem impactar não apenas sua própria saúde, mas também o desenvolvimento fetal durante futuras gestações.
A transição para dietas menos nutritivas deve ser acompanhada de maior conhecimento entre consumidores, profissionais de saúde e formuladores de políticas sobre os micronutrientes em risco, garantindo que as recomendações dietéticas sejam bem planejadas e suplementadas quando necessário.