Diário de um caçador: nove anos nas Montanhas Rochosas 1834-1843


Entre os anos de 1834 e 1843, Osborne Russell percorreu as Montanhas Rochosas como caçador, explorador e comerciante de peles. Seu diário pessoal, posteriormente publicado sob o título Journal of a Trapper, oferece um raro testemunho em primeira mão da vida nômade e da adaptação humana a ambientes selvagens, antes do advento da agricultura moderna ou do processamento industrial de alimentos. Embora não tenha sido escrito com o objetivo de descrever hábitos alimentares, o livro fornece valiosos registros sobre como uma dieta centrada exclusivamente em produtos de origem animal sustentou vigor físico, resistência ao frio extremo e clareza mental durante anos em meio a condições inóspitas.

Alimentação ancestral em ambientes extremos

Russell descreve com frequência a rotina alimentar dos caçadores das Montanhas Rochosas. A base da dieta consistia em carne fresca de animais selvagens, gordura animal e, quando possível, órgãos internos como fígado, coração e rins. Em seus relatos, a ausência de vegetais, grãos ou qualquer produto de origem vegetal não é apresentada como limitação ou causa de carência nutricional — pelo contrário, ele destaca repetidamente a energia, a saúde e a disposição dos homens que viviam unicamente da caça.

Em um trecho datado de agosto de 1834, após descrever uma caçada bem-sucedida a cervos, Russell anota:

“Matamos dois veados e nos fartamos com sua carne e miúdos. Comemos quantidades generosas de fígado ainda quente e gordura derretida — o que nos revigorou após dias de fome e esforço.”

A ênfase na gordura é constante ao longo da narrativa. Os caçadores buscavam, sempre que possível, os animais mais gordos, especialmente no final do verão e outono, quando a caça acumulava tecido adiposo. Durante o inverno rigoroso, quando a carne magra era abundante, mas a gordura escassa, Russell chega a relatar episódios de intensa fraqueza ou apatia — corrigidos apenas após o consumo de gordura animal:

“Nossa força parecia esvair-se apesar de termos carne suficiente. Conseguimos gordura de um urso e, após cozinhá-la com carne seca, recuperamos nosso vigor.”

Esse padrão é compatível com o que hoje se compreende sobre a importância da gordura para fornecer energia adequada em dietas sem carboidratos, sobretudo em ambientes frios onde o metabolismo aumenta a demanda energética.

Consumo de órgãos e partes não convencionais

Russell também descreve sem reservas o consumo de miúdos, medula óssea, pele e até partes como a cabeça dos animais, que eram cozidas para extrair o máximo valor nutricional. Em tempos de escassez, ele e seus companheiros extraíam tutano dos ossos longos, ferviam o couro ou comiam carne parcialmente decomposta para garantir calorias. A ausência de qualquer menção a doenças atribuídas a esse tipo de alimentação reforça a resiliência de uma dieta animal completa quando praticada com conhecimento e adaptação.

“O estômago do búfalo, recheado com gordura derretida e carne macia, era um dos pratos mais valorizados entre nós.”

Esse relato revela uma prática ancestral comum em sociedades caçadoras: o aproveitamento integral do animal, com prioridade para os tecidos mais ricos em nutrientes — algo confirmado por estudos contemporâneos em povos tradicionais como os inuítes e os massai.

Desempenho físico e saúde ao longo dos anos

Durante quase uma década, Russell viveu essa rotina alimentar praticamente inalterada. Não há em seu diário registros de enfermidades crônicas, escorbuto, fraqueza persistente ou deterioração cognitiva. Mesmo em situações extremas — como marchas forçadas na neve, combates com tribos hostis ou semanas de jejum parcial — a recuperação sempre vinha com a ingestão de carne e gordura. Sua escrita, lúcida e detalhada, também afasta qualquer suposição de déficit neurológico por ausência de alimentos vegetais.

Em fevereiro de 1836, após dias de nevasca intensa, ele narra:

“Após nove dias vivendo apenas com o que sobrou de gordura endurecida e carne seca, ainda conseguíamos subir montanhas e caçar para repor nossos estoques.”

Não há qualquer menção à necessidade de carboidratos, frutas ou raízes para manter a saúde ou o desempenho. Pelo contrário, quando tentavam consumir plantas desconhecidas, o resultado frequentemente era diarreia ou mal-estar — o que os levava a evitá-las.

Implicações para a ciência nutricional moderna

O diário de Osborne Russell é uma das mais claras evidências empíricas do século XIX de que seres humanos podem viver — e prosperar — com uma dieta composta exclusivamente por alimentos de origem animal. Embora o conceito de “dieta carnívora” seja frequentemente visto hoje como novidade ou extremismo, o relato de Russell mostra que, em contextos naturais, essa era a regra, não a exceção.

Não há registro de suplementação, não há refinamento de nutrientes, tampouco ingestão de fibras ou fitonutrientes. E ainda assim, não há sinais de deficiência. O que se observa é uma adaptação robusta ao ambiente, sustentada pela biologia humana — uma fisiologia que evoluiu para extrair tudo de que precisa dos tecidos animais.

A leitura desse diário, portanto, não serve apenas como um testemunho histórico de bravura e sobrevivência. Serve como evidência de que dietas 100% animais, quando compostas por carne, gordura e órgãos, são nutricionalmente completas e metabolicamente sustentáveis — ainda que completamente opostas às diretrizes nutricionais modernas.

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