Diabetes Tipo 2: Comparação entre a Dieta Paleolítica e a Dieta Oficial da Associação Americana de Diabetes

Uma Nova Perspectiva Nutricional para o Controle do Diabetes

Pesquisadores têm investigado diferentes abordagens nutricionais para o tratamento do diabetes tipo 2, questionando se as recomendações dietéticas tradicionais são realmente as mais eficazes. Um estudo conduzido pela Dra. Lynda Frassetto comparou diretamente os efeitos da dieta paleolítica com as diretrizes oficiais da Associação Americana de Diabetes (ADA), revelando resultados surpreendentes.

O Contexto da Pesquisa

Populações que seguem um padrão alimentar paleolítico ou similar apresentam características notáveis: a ausência de doenças comuns na civilização ocidental. Estudos epidemiológicos e clínicos conduzidos por Staffan Lindeberg demonstraram que os habitantes tradicionais da ilha de Kitava, pertencente à Papua Nova Guiné, não apresentam obesidade, hipertensão arterial, morte súbita cardíaca ou doenças neurológicas. Além disso, os níveis de glicose e insulina no sangue permanecem baixos mesmo com o avanço da idade.

Observações similares foram documentadas por antropólogos médicos que estudaram outros povos nativos, incluindo inuítes, bosquímanos e aborígenes australianos. Estes achados levantaram questões importantes sobre a relação entre alimentação moderna e o desenvolvimento de doenças crônicas.

A Validação Científica da Dieta Paleolítica

Em 2009, Lynda Frassetto publicou um dos primeiros estudos de intervenção nutricional que demonstrou a eficácia da dieta paleolítica em pessoas saudáveis que anteriormente seguiam uma alimentação ocidental típica. Os resultados foram impressionantes: em apenas dez dias, observou-se melhora significativa na elasticidade dos vasos sanguíneos, redução da pressão arterial e dos níveis de insulina, além de mudanças favoráveis no perfil lipídico.

Estes parâmetros - hipertensão arterial, resistência à insulina e perfil lipídico desfavorável - são considerados componentes da síndrome metabólica e servem como preditores do diabetes tipo 2, correlacionando-se com sua gravidade.

O Estudo Comparativo: Paleolítica versus ADA

Motivada pelos resultados iniciais, Frassetto conduziu um estudo controlado comparando diretamente a dieta paleolítica com as recomendações oficiais da ADA. O estudo, registrado no banco de dados clinicaltrials.gov (identificador: NCT00548782), foi apresentado no Simpósio da Sociedade de Saúde Ancestral dos Estados Unidos em 2011.

Metodologia do Estudo

A pesquisa consistiu em uma intervenção nutricional de 21 dias, com design aberto e grupos paralelos. Dezoito pacientes com diabetes tipo 2 participaram do estudo. Durante a primeira semana, todos os participantes seguiram uma dieta de transição comum. No oitavo dia, os pacientes foram divididos em dois grupos: metade seguiu a dieta oficialmente recomendada pela ADA, enquanto a outra metade adotou a dieta paleolítica.

Um aspecto crucial do estudo foi o controle rigoroso do peso corporal. Para garantir que os resultados não fossem influenciados pela perda de peso, os pesquisadores monitoraram diariamente o peso dos participantes. Quando detectavam redução de peso, recalculavam as necessidades calóricas diárias e aumentavam correspondentemente a quantidade de alimentos a serem consumidos. Esta abordagem permitiu isolar os efeitos específicos de cada tipo de dieta.

Resultados Significativos

Os resultados demonstraram diferenças marcantes entre os dois grupos. No grupo que seguiu a dieta da ADA, não foram observadas mudanças significativas nos parâmetros glicêmicos, níveis de colesterol ou perfil lipídico. Apenas o colesterol HDL apresentou uma redução que ficou no limite da significância estatística.

Em contraste, o grupo da dieta paleolítica apresentou melhorias substanciais. Houve redução significativa tanto nos níveis de glicose quanto nos parâmetros glicêmicos de longo prazo. Estatisticamente, observou-se diminuição significativa do colesterol total, LDL, VLDL e HDL.

Ambos os grupos apresentaram perda de peso similar e mínima (dentro de 1 unidade de IMC), confirmando que este fator não foi responsável pelas diferenças observadas entre os grupos.

A Influência da Sensibilidade ao Sal

Uma análise adicional investigou se a sensibilidade ao sal - definida como elevação da pressão arterial acima da média em resposta à ingestão de sal - influenciava os efeitos das dietas. Os pesquisadores realizaram testes de sensibilidade ao sal e reanalisaram os dados considerando este fator.

Os resultados revelaram que, independentemente da dieta seguida (ADA ou paleolítica), os participantes com sensibilidade ao sal apresentaram maiores melhorias nos parâmetros glicêmicos e lipídicos. O subgrupo com sensibilidade ao sal que seguiu a dieta paleolítica mostrou as maiores melhorias nos parâmetros laboratoriais. Notavelmente, os pacientes que seguiram a dieta ADA e não apresentavam sensibilidade ao sal não se beneficiaram da intervenção dietética.

Comparação com Outros Estudos de Grande Escala

Frassetto comparou seus resultados com o estudo OMNI-Heart, uma pesquisa de grande escala que investigou os efeitos de três dietas consideradas saudáveis (dieta com redução de carboidratos, dieta rica em proteínas e dieta rica em ácidos graxos insaturados) sobre fatores de risco cardiovascular em uma população com sobrepeso.

No estudo OMNI-Heart, os participantes seguiram cada dieta por seis semanas em ordem aleatória. As dietas rica em proteínas e rica em ácidos graxos insaturados demonstraram efeitos positivos nos parâmetros laboratoriais. Os pesquisadores consideraram os resultados promissores, estimando que mudanças dietéticas poderiam reduzir o risco cardiovascular em 10 anos entre 16-21%.

No entanto, quando os resultados do estudo de Frassetto foram comparados diretamente com os do OMNI-Heart, a superioridade da dieta paleolítica tornou-se evidente em todos os quatro parâmetros avaliados: colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos. Conclusões similares emergiram quando comparados com outros estudos de intervenção nutricional de grande escala, como o Premier study que investigou a dieta DASH.

Implicações para o Tratamento do Diabetes

Os resultados desta pesquisa levantam questões importantes sobre as diretrizes dietéticas atuais para diabetes tipo 2. Enquanto a ADA há muito tempo recomenda uma dieta baseada em carboidratos para pacientes diabéticos - a mesma recomendação utilizada por sociedades nacionais de diabetes em todo o mundo -, este estudo sugere que abordagens alternativas podem ser mais eficazes.

É importante notar que, segundo a ADA, a dieta para diabéticos não difere da dieta equilibrada recomendada para qualquer pessoa com objetivos de manutenção da saúde. Esta uniformidade de recomendações contrasta com os resultados específicos observados com a intervenção paleolítica.

Considerações Científicas

As estatísticas do diabetes são alarmantes, e as projeções indicam deterioração contínua. Este estudo controlado fornece evidências de que intervenções dietéticas baseadas em princípios evolutivos podem oferecer benefícios superiores aos das recomendações convencionais para o controle do diabetes tipo 2.

A pesquisa demonstra que, em um período relativamente curto de 21 dias, mudanças dietéticas específicas podem produzir melhorias mensuráveis em parâmetros clínicos relevantes, sem dependência da perda de peso como mecanismo principal.

Os achados sugerem que a abordagem nutricional para o diabetes tipo 2 merece reavaliação, especialmente considerando que populações que mantêm padrões alimentares tradicionais demonstram ausência das doenças metabólicas que são prevalentes nas sociedades industrializadas.

Fonte: https://www.researchgate.net/publication/258908486

Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: