A maioria das agências ocidentais de saúde pública, como a American Heart Association (AHA), British Heart Foundation (BHF), Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e a FDA, aprovou alegações de que o consumo de aveia, por conter beta-glucana, pode contribuir para a redução do colesterol LDL. Essas entidades recomendam cerca de 3 gramas diários dessa fibra, quantidade equivalente a 100 gramas de aveia. Essas orientações partem do princípio de que a redução do colesterol LDL estaria associada à menor incidência de eventos cardiovasculares.Posições-chave de organizações de saúde pública
- A American Heart Association (AHA): A AHA observa que estudos extensivos relacionam a aveia e a farinha de aveia à redução do colesterol LDL ( 7 ).
- British Dietetic Association (BDA): A BDA recomenda que comer mais alimentos ricos em fibras, como aveia, pode ajudar a diminuir o risco de doenças cardíacas ( 8 ).
- British Heart Foundation (BHF): A BHF informa que 3 gramas de beta-glucana por dia — o que equivale a aproximadamente 100 g de aveia — demonstraram contribuir para níveis saudáveis de colesterol ( 9 ).
- Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA): A EFSA conclui que existe uma “ relação de causa e efeito ” entre o beta-glucano da aveia e as reduções do LDL-C ( 10 ).
- Health Canada: A agência de saúde pública do Canadá concorda que as alegações de que a fibra de aveia é benéfica para reduzir o colesterol são comprovadas ( 11 ).
- Heart Foundation Australia: A Heart Foundation da Austrália afirma que “ vários estudos ” demonstraram que a aveia pode reduzir o LDL-C e menciona 3 gramas por dia de beta-glucano como meta ( 12 ).
- Heart UK: A instituição de caridade Heart UK recomenda que a aveia e os produtos à base de aveia reduzam o colesterol, mencionando novamente 3 gramas de beta-glucana por dia ( 13 ).
- Clínica Mayo: A Clínica Mayo menciona a aveia como um “ alimento importante” para reduzir o colesterol, enfatizando que é uma boa fonte de fibra solúvel ( 14 ).
- Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA): A FDA aprovou uma alegação de que a fibra de aveia reduz o risco de doenças cardíacas desde 1997 ( 15 ).
Em resumo: a maioria das organizações ocidentais de saúde pública e saúde cardíaca recomendam o consumo de aveia para reduzir o colesterol LDL.
No entanto, uma série de revisões sistemáticas e meta-análises recentes lança dúvidas sobre os efeitos de se buscar reduções agressivas de colesterol, principalmente por meio de medicamentos. Evidências mostram que níveis muito baixos de colesterol LDL, especialmente abaixo de 70 mg/dL, podem estar associados a um aumento no risco de mortalidade por todas as causas, incluindo câncer, doenças hepáticas, respiratórias, suicídio e até doenças neurodegenerativas como Parkinson. Alguns estudos apontam que essa relação segue um padrão em U, no qual tanto níveis elevados quanto níveis excessivamente baixos estão ligados a maior risco de morte.
Além disso, em idosos saudáveis sem histórico de doença cardiovascular, os benefícios da redução intensiva de colesterol com estatinas parecem ser incertos, enquanto os efeitos adversos aumentam com a idade. Há também achados de que o colesterol desempenha funções importantes no sistema nervoso e na resposta imunológica, o que pode justificar os riscos observados em contextos de níveis extremamente baixos.
Este estudo mostra que reduzir demais o colesterol no sangue — especialmente o colesterol total e o LDL (conhecido como “colesterol ruim”) — pode aumentar o risco de AVC hemorrágico, um tipo grave de derrame causado por sangramento no cérebro. A cada queda de 1 mmol/L no colesterol total, o risco de hemorragia cerebral aumentou, o que sugere que níveis muito baixos de colesterol podem enfraquecer os vasos sanguíneos e favorecer rompimentos. Esses achados indicam que baixar o colesterol em excesso, especialmente com uso intensivo de medicamentos, pode trazer riscos à saúde, e deve ser feito com cautela.Referência: Cholesterol Levels and Risk of Hemorrhagic Stroke: A Systematic Review and Meta-Analysis https://doi.org/10.1161/STROKEAHA.113.001326
Apesar dos benefícios cardiovasculares, o estudo mostrou que em pessoas com mais de 75 anos sem histórico de doença vascular, os efeitos positivos da redução do colesterol com estatinas são menores ou incertos. Além disso, os efeitos adversos tendem a aumentar com a idade, como maior risco de interações medicamentosas e fragilidade, sem evidência de redução na mortalidade por causas não vasculares. Isso indica que baixar o colesterol agressivamente em idosos saudáveis pode trazer riscos que superam os benefícios.
Referência: Efficacy and safety of statin therapy in older people: a meta-analysis of individual participant data from 28 randomised controlled trials https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31942-1
O estudo demonstrou que níveis muito baixos de colesterol LDL, especialmente abaixo de 70 mg/dL, estão associados a um risco aumentado de morte por todas as causas, incluindo câncer e doenças respiratórias. Essa relação em forma de U indica que tanto níveis muito altos quanto muito baixos de LDL podem ser prejudiciais, desafiando a ideia de que quanto mais baixo o colesterol, melhor. A redução excessiva do LDL, portanto, pode ter efeitos colaterais importantes à saúde e deve ser avaliada com cautela.Referência: LDL-C Levels Below 55 mg/dl and Risk of Hemorrhagic Stroke: A Meta-Analysis https://doi.org/10.1016/j.jstrokecerebrovasdis.2021.105655
O estudo identificou que níveis baixos de colesterol total estão associados a um risco significativamente maior de morte por câncer, doenças do fígado e causas externas (como suicídio e acidentes). A relação observada foi inversa: quanto mais baixo o colesterol, maior o risco dessas mortes, especialmente quando o colesterol total estava abaixo de 160 mg/dL. Esses achados sugerem que reduzir o colesterol de forma excessiva pode comprometer a saúde geral e aumentar o risco de morte por outras causas além das cardiovasculares.Referência: Efficacy and safety of more intensive lowering of LDL cholesterol: a meta-analysis of data from 170 000 participants in 26 randomised trials https://doi.org/10.1016/S0140-6736(10)61350-5
O estudo mostrou que níveis baixos de colesterol LDL estão associados a um risco significativamente maior de desenvolver doença de Parkinson. Participantes com os menores níveis de LDL tiveram mais que o dobro de risco em comparação aos que apresentavam níveis mais altos. Esses resultados sugerem que, ao reduzir demais o colesterol, pode-se comprometer a função neurológica e aumentar a vulnerabilidade a doenças degenerativas do cérebro.Referência: Lipid levels and the risk of hemorrhagic stroke among women https://doi.org/10.1212/WNL.0000000000007454
O estudo revelou que pessoas com colesterol LDL muito baixo (abaixo de 70 mg/dL) apresentaram maior risco de morte por todas as causas, especialmente por câncer e doenças do fígado. Além disso, a mortalidade foi maior mesmo entre aqueles sem histórico de doenças cardiovasculares, sugerindo que a redução exagerada do colesterol pode comprometer funções vitais do organismo e aumentar a vulnerabilidade a outras doenças graves.Referência: Safety and efficacy of very low LDL-cholesterol intensive lowering: a meta-analysis and meta-regression of randomized trials https://doi.org/10.1093/ehjcvp/pvac049
O estudo revelou que níveis baixos de colesterol total e LDL estão ligados a um risco aumentado de suicídio, especialmente entre homens. A hipótese dos autores é que o colesterol exerce um papel importante na regulação de neurotransmissores como a serotonina, e sua deficiência pode afetar o humor e o comportamento. Isso sugere que, ao reduzir o colesterol de forma excessiva, pode-se comprometer a saúde mental e aumentar o risco de desfechos trágicos.Referência: Lack of Effect of Lowering LDL Cholesterol on Cancer: Meta-Analysis of Individual Data from 175,000 People in 27 Randomised Trials of Statin Therapy https://doi.org/10.1371/journal.pone.0029849
O estudo concluiu que níveis baixos de colesterol LDL e total estão fortemente associados ao aumento da mortalidade por todas as causas em pacientes hospitalizados, especialmente entre os mais graves. Segundo os autores, o colesterol pode ter um papel protetor durante doenças agudas, ajudando na resposta imune e na integridade celular. Isso significa que baixar demais o colesterol, principalmente em pessoas vulneráveis, pode piorar o prognóstico e aumentar o risco de morte.Referência: A systematic review and meta-analysis of serum cholesterol and triglyceride levels in patients with Parkinson’s disease https://doi.org/10.1186/s12944-020-01284-w
O estudo estimou que para adultos de baixo risco cardiovascular, o uso de estatinas para reduzir o colesterol pode trazer mais danos do que benefícios. Os autores calcularam que, em muitos casos, os efeitos adversos das estatinas (como dores musculares, risco de diabetes e problemas hepáticos) superam os ganhos em prevenção de eventos cardíacos, especialmente quando o risco inicial é muito baixo. Isso levanta preocupações sobre a prescrição indiscriminada desses medicamentos em pessoas saudáveis.Referência: Comparative effectiveness and safety of statins as a class and of specific statins for primary prevention of cardiovascular disease: A systematic review, meta-analysis, and network meta-analysis of randomized trials with 94,283 participants https://doi.org/10.1016/j.ahj.2018.12.007
O estudo concluiu que níveis baixos de colesterol estão associados a maior risco de depressão e comportamentos suicidas, especialmente entre homens. Os autores sugerem que o colesterol é essencial para o funcionamento adequado do cérebro, incluindo a produção de serotonina, neurotransmissor ligado ao bem-estar. Reduzir demais o colesterol pode comprometer essa função e afetar negativamente a saúde mental.Referência: Influence of Lipid Profiles on the Risk of Hemorrhagic Transformation after Ischemic Stroke: Systematic Review https://doi.org/10.1159/000335014
O estudo mostrou que a redução intensa do colesterol LDL com estatinas e ezetimiba pode aumentar o risco de eventos adversos, como diabetes tipo 2, hemorragia intracraniana e até câncer, especialmente quando os níveis de LDL caem para menos de 30 mg/dL. Embora a redução do LDL possa prevenir infartos em pessoas de alto risco, os autores alertam que levar o colesterol a níveis extremamente baixos pode trazer efeitos colaterais graves e precisa ser cuidadosamente avaliado em cada caso.Referência: Extent of Low-density Lipoprotein Cholesterol Reduction and All-cause and Cardiovascular Mortality Benefit: A Systematic Review and Meta-analysis http://doi.org/10.1097/FJC.0000000000001345
O estudo revelou que níveis muito baixos de colesterol LDL estão ligados a um risco significativamente maior de morte por diversas causas, incluindo doenças respiratórias e câncer. Os pesquisadores encontraram uma curva em “J”, na qual tanto níveis altos quanto baixos de LDL se associam a maior mortalidade, sendo o menor risco observado em faixas intermediárias. Isso indica que reduzir demais o colesterol pode prejudicar funções vitais e aumentar o risco de morte, especialmente em pessoas sem histórico de doenças cardiovasculares.Referência: Association between low density lipoprotein cholesterol and all-cause mortality: results from the NHANES 1999–2014 https://doi.org/10.1038/s41598-021-01738-w