Frederick John Schlink, conhecido por seu ativismo em defesa do consumidor e pela coautoria do livro “100.000.000 Guinea Pigs” (1933), lançou em 1946 uma obra menos comentada, mas de grande interesse histórico e nutricional: Meat Three Times a Day. Trata-se de uma defesa enfática da carne como base alimentar fundamental, tanto sob a perspectiva fisiológica quanto cultural. Em pleno pós-guerra, Schlink se opôs às crescentes campanhas de restrição à carne, já então influenciadas por ideologias dietéticas que ganhariam força nas décadas seguintes.
A Carne como Pilar Nutricional
Desde os primeiros capítulos, Schlink apresenta um argumento central: a carne, sobretudo a bovina, é um alimento insubstituível em sua densidade nutricional, valor biológico e compatibilidade com a fisiologia humana. Para ele, proteínas de alto valor biológico, gorduras essenciais e micronutrientes como ferro heme, zinco, fósforo e vitaminas do complexo B — com destaque para a B12, exclusiva dos produtos de origem animal — compõem uma matriz alimentar superior.
Segundo o autor, a digestão da carne é eficiente, produz menor carga residual para o intestino e oferece saciedade prolongada. Esses efeitos, aliados à baixa densidade glicêmica e ao estímulo à termogênese, tornam a carne uma aliada no controle do peso corporal e na prevenção de doenças metabólicas. Esses argumentos ecoam fortemente os princípios modernos das dietas cetogênica, paleolítica e carnívora.
Crítica aos Modismos Alimentares
Um dos eixos mais combativos da obra é a denúncia dos modismos alimentares e das campanhas contra a carne, que Schlink identifica como sustentadas por evidências frágeis e interesses ideológicos. Ele argumenta que a crescente desvalorização da carne vinha sendo promovida por grupos que exaltavam alimentos industrializados ou dietas à base de vegetais refinados, mesmo sem dados consistentes que sustentassem tais recomendações.
Schlink observa que populações com alto consumo de carne — quando acompanhadas de uma dieta livre de ultraprocessados — não apresentavam incidência elevada de doenças cardiovasculares. Ele denuncia a má interpretação dos dados epidemiológicos e critica estudos que, já na época, extrapolavam associações frágeis em nome de grandes conclusões.
Infância, Crescimento e Carne
A preocupação com a alimentação infantil ocupa papel central no livro. Schlink afirma que restringir a carne na dieta de crianças e adolescentes compromete gravemente o desenvolvimento físico e mental. Ele defende a inclusão da carne em todas as refeições, inclusive no café da manhã — prática comum em regiões rurais norte-americanas naquele período — como forma de garantir crescimento adequado, robustez imunológica e rendimento escolar.
Segundo o autor, a substituição da carne por carboidratos refinados ou derivados industrializados não apenas empobrece a dieta, mas também compromete o desenvolvimento cognitivo em longo prazo. Para ele, tratar a carne como item opcional ou esporádico é um erro com sérias consequências sociais e sanitárias.
Alimento, Cultura e Nação
Meat Three Times a Day não se limita a argumentos nutricionais. Schlink insere o consumo de carne no contexto mais amplo da identidade americana, do vigor físico da juventude e da soberania alimentar. Ele vincula o acesso irrestrito à carne ao desempenho escolar, à produtividade econômica e até mesmo ao preparo militar — em uma época na qual essas qualidades eram associadas à prosperidade nacional.
A obra também critica políticas públicas que dificultavam o acesso à carne, seja por motivos econômicos, sanitários ou ideológicos. Para Schlink, essas ações favoreciam indiretamente a indústria de produtos alimentares processados, frequentemente enriquecidos com aditivos e carentes em valor nutricional.
Atualidade de um Clássico Esquecido
Mesmo com quase 80 anos desde sua publicação, a obra de Schlink antecipa discussões que só recentemente voltaram ao centro do debate. O movimento por uma alimentação baseada em alimentos de origem animal, como se vê em propostas como a dieta cetogênica paleolítica (PKD) ou a dieta carnívora, resgata muitos dos princípios defendidos por ele. A crítica aos alimentos ultraprocessados, à obesidade induzida por dietas pobres em proteína e ricas em amido e açúcar, e à exclusão da carne como alimento de base continua atual.
Embora Schlink não proponha uma dieta exclusivamente carnívora, sua recomendação de consumo de carne três vezes ao dia alinha-se com práticas alimentares ancestrais e observa evidências clínicas da época, muito antes do advento dos grandes ensaios nutricionais randomizados. Seu trabalho se destaca como um alerta precoce contra a pseudociência nutricional e um manifesto em defesa da biologia alimentar humana.
Fonte: https://amzn.to/43kY4cu
*Disponível completo na newsletter