Tratamento da obesidade: desenvolvimentos dos últimos 150 anos (1954)

O artigo de Pennington examina a evolução dos tratamentos para a obesidade nos últimos 150 anos, destacando como as abordagens médicas mudaram ao longo do tempo. Inicialmente, a obesidade era vista apenas como consequência de comer demais, sem considerar fatores metabólicos. No entanto, diferentes médicos e cientistas começaram a questionar essa visão simplista e explorar outras causas e tratamentos.

No final do século XVIII, o médico Thomas Beddoes sugeriu que a obesidade poderia estar relacionada a um problema de oxigenação do corpo, baseando-se na teoria da química pneumática. Ele acreditava que o excesso de gordura poderia ser causado por uma deficiência na mistura de oxigênio com a gordura corporal. No entanto, essa ideia foi descartada por William Wadd, um cirurgião influente da época, que defendia que a obesidade resultava exclusivamente do excesso de comida. Segundo Wadd, a única solução era ingerir alimentos pouco nutritivos e controlar os impulsos alimentares.

No século XIX, uma nova abordagem começou a surgir com o trabalho de William Harvey, um cirurgião inglês. Ele foi influenciado pelas descobertas do cientista francês Claude Bernard, que estudava a função do fígado na produção de glicose. Harvey observou que certos alimentos, como os ricos em açúcar e amido, levavam ao ganho de peso e que uma dieta baseada principalmente em carnes poderia ajudar na perda de peso. Ele aplicou essa ideia em um paciente chamado William Banting, que sofria de obesidade severa. Harvey prescreveu uma dieta sem farináceos e açúcares, mas com carne, peixe e algumas verduras. Banting perdeu 46 quilos em um ano sem passar fome e divulgou sua experiência em um panfleto, popularizando o chamado "Método Banting". Esse método se tornou muito conhecido, mas enfrentou forte resistência da comunidade médica, que o considerava estranho e sem embasamento científico.

Ao longo do século XX, a teoria calórica de Liebig se consolidou. Segundo essa visão, carboidratos e gorduras eram os principais responsáveis pelo fornecimento de energia e pelo acúmulo de gordura. Dessa forma, o tratamento da obesidade passou a se concentrar na redução do consumo de calorias. Dietas baseadas em altas quantidades de proteínas e baixa ingestão de gorduras foram defendidas por alguns médicos, mas as principais diretrizes médicas continuavam focadas na simples restrição calórica.

Nos anos 1940, o médico Blake F. Donaldson retomou a ideia de que a obesidade poderia ser tratada sem a necessidade de reduzir drasticamente a ingestão de calorias. Ele testou um regime alimentar baseado no consumo livre de carnes com gordura e pequenas quantidades de certos vegetais, excluindo açúcares, farináceos e álcool. Donaldson observou que seus pacientes conseguiam perder peso sem sentir fome, o que ia contra a ideia predominante de que era necessário "comer menos e se mover mais" para emagrecer.

Pennington argumenta que a obesidade pode estar relacionada a um problema metabólico e não apenas ao excesso de ingestão calórica. Ele sugere que algumas pessoas têm dificuldades em metabolizar carboidratos, o que leva ao armazenamento excessivo de gordura. Assim, a obesidade poderia ser vista como uma adaptação do corpo a um metabolismo disfuncional dos carboidratos, em vez de ser apenas uma consequência do excesso de comida.

Baseado nessa teoria, Pennington propõe um tratamento alternativo para a obesidade que não exige restrição calórica extrema. Em vez disso, ele sugere eliminar ou reduzir drasticamente o consumo de carboidratos refinados, permitindo que os pacientes comam quantidades generosas de proteínas e gorduras naturais. Ele argumenta que esse tipo de dieta respeita melhor a fisiologia do corpo e permite que a perda de peso ocorra de forma mais natural e sustentável.

O artigo conclui que o erro da medicina ao longo da história foi tentar encaixar todas as dietas dentro da teoria do balanço calórico, ignorando possíveis disfunções metabólicas. Pennington acredita que, se a restrição de carboidratos fosse mais explorada, poderia representar uma abordagem mais eficaz e menos sofrida para o tratamento da obesidade. Ele destaca que, apesar do preconceito contra essa estratégia, os resultados clínicos demonstram que ela pode ser eficaz sem a necessidade de grandes sacrifícios na quantidade de comida consumida.

Fonte: https://doi.org/10.1007/BF02880976

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