Epilepsia Ausência Infantil Tratada com Sucesso com a Dieta Paleolítica Cetogênica

A epilepsia de ausência infantil é uma forma generalizada de epilepsia que se manifesta tipicamente entre os 4 e 10 anos de idade, caracterizada por episódios breves de perda de consciência — conhecidos como crises de ausência — que podem ocorrer dezenas de vezes ao dia. Embora muitos casos respondam bem à dieta cetogênica clássica ou a medicamentos como o valproato e a etossuximida, ainda há espaço para abordagens terapêuticas menos restritivas e com melhor tolerância a longo prazo.

Este relato de caso, publicado em 2013 na Neurology and Therapy, descreve o tratamento bem-sucedido de uma criança de 7 anos com epilepsia de ausência por meio exclusivo da dieta paleolítica cetogênica (PKD), uma variante da dieta cetogênica inspirada na alimentação ancestral.

O caso clínico

A criança apresentava histórico de convulsões febris e um desenvolvimento global atrasado, com dificuldades comportamentais e sociais. Aos 7 anos, começou a apresentar episódios de "olhar fixo" com frequência crescente. A eletroencefalografia (EEG) confirmou a presença de descargas generalizadas de ponta-onda a 2,5 Hz, típicas da epilepsia de ausência infantil. Os pais recusaram tratamento medicamentoso com valproato, temendo efeitos adversos, e buscaram uma alternativa dietética.

Foi então introduzida a dieta paleolítica cetogênica, baseada exclusivamente em alimentos de origem animal: carnes, vísceras, ovos, peixes e gordura animal. A dieta foi planejada com uma proporção de 4:1 em peso de gordura para proteína e excluía completamente grãos, laticínios, leguminosas, vegetais ricos em amido, açúcares e óleos vegetais. Também foi suplementada com vitamina D3 e ácidos graxos ômega-3.

Resultados clínicos

A resposta foi rápida: já na primeira semana, observou-se redução progressiva nas crises, com desaparecimento completo após seis semanas. Além da remissão das crises, houve melhora significativa no desenvolvimento motor e social da criança. Ela passou a frequentar uma escola regular, ganhou peso e altura e apresentou melhoras no humor e na sociabilidade. Uma EEG de controle aos 12 meses confirmou ausência de atividade epiléptica.

Com três meses de dieta estritamente cetogênica, iniciou-se uma transição gradual para uma dieta paleolítica menos restrita, com reintrodução de vegetais de baixo índice glicêmico, mantendo-se a ausência de crises.

Análise laboratorial e segurança

Os exames laboratoriais realizados aos 6 semanas e aos 14 meses revelaram parâmetros normais, com exceção de um leve aumento do colesterol total e do LDL. O nível de glicose manteve-se dentro da faixa esperada para dietas cetogênicas. Não foram observados efeitos adversos clínicos ou laboratoriais significativos durante os 20 meses de seguimento.

Discussão

A dieta cetogênica é reconhecida como uma opção não farmacológica eficaz para epilepsia refratária. Contudo, seu uso é limitado por dificuldades de adesão e potenciais efeitos colaterais, especialmente em crianças. A PKD, ao se basear exclusivamente em alimentos naturais e evitar aditivos, mostrou-se uma alternativa viável, segura e eficaz.

É notável que, além do controle das crises, houve desenvolvimento físico e comportamental superior ao esperado para pacientes sob dieta cetogênica clássica, que costuma estar associada a efeitos como atraso no crescimento. A melhora precoce e sustentada após início da dieta sugere causalidade e não simples remissão espontânea da epilepsia.

Conclusão

Este estudo de caso indica que a dieta paleolítica cetogênica pode ser uma abordagem eficaz, segura e bem tolerada para o tratamento da epilepsia de ausência infantil. Sua aplicação como monoterapia, com resultados clínicos e neurofisiológicos positivos, destaca a importância de considerar estratégias nutricionais evolutivamente fundamentadas na prática neurológica, especialmente quando os tratamentos farmacológicos são indesejados ou contraindicados.

Fonte: https://doi.org/10.1007/s40120-013-0013-2

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