A dieta cetogênica (DC) tem despertado grande interesse no contexto esportivo, especialmente entre praticantes de treinamento de resistência que buscam otimizar a composição corporal e o desempenho. Um estudo recente, publicado na revista Nutrients, avaliou de forma sistemática e quantitativa os efeitos dessa estratégia alimentar no desempenho de força de homens e mulheres treinados em resistência. O artigo intitulado Effects of the Ketogenic Diet on Strength Performance in Trained Men and Women: A Systematic Review and Meta-Analysis reuniu evidências sobre a relação entre a DC e os níveis de força em exercícios como agachamento (squat, SQ) e supino (bench press, BP).
Contexto e Objetivo do Estudo
A DC é caracterizada por uma ingestão muito baixa de carboidratos (5-10% do total calórico, ou menos de 20-50 g/dia) e alta ingestão de gorduras. Embora existam recomendações tradicionais para atletas de força que indicam 4-7 g/kg/dia de carboidratos, ou até mais em atividades anaeróbicas intensas, alguns autores têm proposto a DC como alternativa para preservar ou até aumentar a massa livre de gordura em indivíduos treinados. O objetivo principal da revisão e meta-análise foi verificar se a DC impacta positivamente ou negativamente o desempenho em força de indivíduos com experiência em treinamento resistido.
Métodos
Os pesquisadores realizaram uma busca sistemática nas bases PubMed, Scopus e Web of Science, selecionando estudos controlados randomizados com duração mínima de 8 semanas, aplicados a participantes treinados em resistência, sem suplementação adicional, e com avaliação de força (1-RM). Foram incluídos seis estudos que analisaram 67 participantes na DC e 64 no grupo controle.
Resultados
Foram realizadas duas meta-análises: uma para o 1-RM no agachamento e outra para o 1-RM no supino. Os resultados não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p > 0,05):
- Supino (BP): diferença média de -2,78 kg (IC95% -10,40 a 4,85), favorecendo ligeiramente o grupo controle.
- Agachamento (SQ): diferença média de -8,15 kg (IC95% -18,55 a 2,24), também em favor do grupo controle.
O índice de heterogeneidade (I²) foi 0% em ambas as análises, sugerindo consistência entre os estudos. Não foi detectado viés de publicação.
Discussão
Embora a DC não tenha prejudicado o desempenho no 1-RM, também não demonstrou superioridade em relação a dietas com maior teor de carboidratos. O estudo destaca que o teste de 1-RM, apesar de amplamente utilizado, pode não ser o mais adequado para avaliar o impacto da dieta em sessões típicas de treino focadas em hipertrofia. Isso porque o 1-RM envolve esforços de curta duração e máxima intensidade, utilizando principalmente o sistema fosfagênico, sem depender diretamente das reservas de glicogênio.
Outros estudos mencionados na discussão sugerem que métricas como número total de repetições, volume de carga (séries × repetições × carga) e percepção de esforço podem ser mais informativas para esse público. Ensaios que avaliaram essas variáveis indicaram que a DC não compromete o desempenho em sessões de treinamento de força, embora tampouco proporcione vantagens adicionais.
Conclusão
O estudo conclui que a DC não prejudica o desempenho no 1-RM em exercícios de força em homens e mulheres treinados, mas também não promove benefícios superiores em comparação a dietas mais ricas em carboidratos. Além disso, ressalta-se a necessidade de mais pesquisas que avaliem outras métricas de desempenho mais representativas para quem treina com foco em hipertrofia.
Fonte: https://doi.org/10.3390/nu16142200
