A Doença de Crohn é uma enfermidade inflamatória crônica do intestino, tradicionalmente considerada sem cura. Os tratamentos convencionais incluem anti-inflamatórios, imunossupressores e terapias biológicas que, apesar de oferecerem alívio sintomático temporário, frequentemente falham em interromper a progressão da doença e estão associados a efeitos colaterais significativos. Neste contexto, uma abordagem terapêutica alternativa tem ganhado atenção: a dieta paleolítica cetogênica (PKD), que combina os princípios evolutivos da alimentação com a indução nutricional da cetose.
O artigo de Tóth et al. (2016) apresenta o caso de um adolescente de 14 anos diagnosticado com Doença de Crohn grave, refratária a todas as terapias padrão. Ao longo de mais de um ano, o paciente foi tratado com uma combinação de mesalazina, antibióticos, corticóides, imunossupressores e adalimumabe, além de nutrição enteral exclusiva. Apesar dessas intervenções, houve piora clínica e progressão da inflamação intestinal, culminando em indicação cirúrgica devido ao estreitamento do lúmen intestinal.
Diante da ineficácia terapêutica e do agravamento do quadro, a equipe da Paleomedicina propôs a adoção da dieta paleolítica cetogênica em sua forma mais estrita — composta exclusivamente por carne vermelha, vísceras, gordura animal e ovos, com proporção aproximada de 2:1 entre gordura e proteína (em peso). Alimentos vegetais, laticínios, óleos vegetais, oleaginosas e adoçantes foram eliminados. A dieta foi bem tolerada, sem necessidade de suplementação.
Os resultados foram notáveis. Em apenas duas semanas, o paciente interrompeu completamente o uso de medicamentos. Nas semanas seguintes, houve desaparecimento de sintomas como suores noturnos, dores articulares, fadiga e perda de apetite. Em três meses, as dores nos joelhos desapareceram e o jovem passou a se deslocar diariamente de bicicleta para a escola. Houve normalização progressiva de exames laboratoriais e melhora significativa nas imagens de ultrassom e ressonância magnética, que antes mostravam espessamento intestinal difuso.
Além disso, a permeabilidade intestinal — um marcador relevante na fisiopatologia da Doença de Crohn — foi avaliada com o teste PEG 400. Após quatro meses de dieta, os resultados ainda indicavam alterações, mas ao final de dez meses de adesão estrita à PKD, observou-se completa normalização, fato inédito na literatura médica até então.
Um episódio pontual de transgressão alimentar — consumo de “bolo paleo” com ingredientes vegetais — resultou em recaída aguda da inflamação intestinal, demonstrando a sensibilidade do paciente aos compostos não-animalizados e reforçando a necessidade de adesão rigorosa à dieta para manutenção da remissão.
Os autores concluem que, ao contrário das abordagens convencionais que apenas controlam aspectos pontuais da doença, a dieta paleolítica cetogênica foi capaz de reverter um quadro avançado de Doença de Crohn, normalizando não apenas os sintomas e exames laboratoriais, mas também marcadores objetivos como a permeabilidade intestinal. A ausência de efeitos adversos ao longo de 15 meses reforça o perfil de segurança da intervenção.
Este estudo de caso contribui de forma relevante para a discussão sobre o papel da alimentação no tratamento de doenças autoimunes intestinais, apontando a PKD como uma abordagem promissora para casos refratários e avançados de Doença de Crohn.
Fonte: http://doi.org/10.5348/ijcri-2016102-CR-10690
