A Dieta Carnívora no Tratamento da Obesidade Geral e Parcial: Observações Clínicas de 1886


Em 1886, o médico italiano Edoardo Ughi publicou na Rivista Clinica di Bologna um relato detalhado sobre o uso da dieta exclusivamente carnívora no tratamento da obesidade. Atuando como professor de clínica propedêutica médica na Universidade de Parma, Ughi descreveu os resultados obtidos com 11 pacientes submetidos a uma alimentação restrita a carnes, ovos e caldo de carne — sem vegetais, sem pães e sem farinhas.

Apesar da popularidade atual das dietas com base em alimentos de origem animal, o relato de Ughi revela que essa abordagem não é uma novidade. Na segunda metade do século XIX, especialmente no contexto europeu, dietas ricas em proteína animal já vinham sendo adotadas como terapêuticas para obesidade e diabetes, com destaque para a "dieta animal" — na época, ainda acompanhada de vegetais. O que Ughi propõe vai além: uma dieta essencialmente carnívora, aplicada com critério clínico.

Por que tratar a obesidade com carne?

Ughi introduz seu estudo discutindo a etiologia da obesidade. Ele observa que muitos de seus pacientes, embora pertencentes à elite social, não consumiam quantidades exageradas de comida. Ao compará-los com outras pessoas da mesma classe que se alimentavam ainda mais e não desenvolviam obesidade, ele sugere que deve haver uma predisposição individual à conversão de proteínas e carboidratos em gordura corporal. Essa observação antecipa, com surpreendente clareza, a atual discussão sobre variabilidade metabólica e sensibilidade à insulina.

A dieta prescrita: carne, ovos e caldo

O tratamento consistia em:

  • 700 a 900 gramas de carne por dia (entre 1,5 a 2 libras, em média);
  • 1 a 1,5 xícaras de caldo de carne;
  • 2 a 3 ovos por dia, especialmente se a quantidade de carne fosse menor;
  • 1 garrafa de vinho tinto por dia, recomendação provavelmente relacionada à baixa qualidade sanitária da água na época.

É importante destacar que nenhuma outra mudança de estilo de vida foi exigida dos pacientes. Aqueles que eram sedentários continuaram sedentários, e os mais ativos não foram estimulados a modificar sua rotina.

Resultados clínicos nos 11 pacientes

Os pacientes permaneceram na dieta por alguns meses até meio ano, perdendo entre 8 a 20 kg (aproximadamente 18 a 45 libras). O mais notável é que todos apresentaram melhora nos sintomas relacionados à obesidade, como falta de ar, tontura, palpitações e fraqueza muscular.

Além disso, Ughi relata:

  • A dieta foi bem tolerada por todos os pacientes;
  • Pacientes dispepticos apresentaram alívio dos sintomas gastrointestinais;
  • A cor da pele se tornou mais intensa em muitos casos;
  • Alguns homens relataram recuperação da função sexual, anteriormente comprometida pela obesidade.

Segundo Ughi, esses benefícios eram explicáveis pelas "leis da fisiologia", ainda que as bases bioquímicas da época fossem limitadas.

Um caso de seguimento prolongado

O 11º paciente, acompanhado por um colega de Ughi, Dr. Guido Musiari, seguiu a dieta por três anos. Com 1,88 m e pesando mais de 136 kg no início, esse paciente perdeu cerca de 39 kg (85 libras), atingindo um peso inferior a 97 kg, mesmo com pequenas quantidades de pão ocasionalmente permitidas por Musiari.

Considerações finais

Ughi conclui seu relato com observações que ecoam nos debates atuais sobre dietas restritivas:

  1. A dieta carnívora foi segura, bem tolerada e eficaz na perda de peso;
  2. Melhorou sintomas clínicos diversos — não apenas a obesidade em si;
  3. Não foram observadas deficiências nutricionais ou efeitos adversos significativos, mesmo sem fibras, vegetais ou carboidratos;
  4. A manutenção do peso foi possível mesmo após a interrupção da dieta, embora sem detalhar a alimentação de manutenção dos pacientes.

Hoje, muitos pesquisadores ainda se perguntam como pacientes podem manter boa saúde e vitalidade com uma dieta baseada exclusivamente em produtos de origem animal, sem fibras vegetais e com ausência total de alimentos considerados "essenciais" pelas diretrizes convencionais. O trabalho de Edoardo Ughi, com mais de um século de idade, é um convite à reavaliação científica de paradigmas consolidados e à abertura para hipóteses baseadas em observação clínica rigorosa.

Fonte: https://uncertaintyprinciples.substack.com/p/tales-from-the-history-of-carnivore

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