Pesquisas recentes questionam os níveis recomendados de colesterol LDL (colesterol "ruim") em pessoas com diabetes que não apresentam alto risco cardiovascular (RCV). Diretrizes atuais sugerem reduzir o LDL-C para menos de 70 mg/dL, mas estudos observacionais mostram que níveis muito baixos podem estar associados a maior mortalidade, especialmente por câncer e infecções.
Um estudo com 2.098 participantes da coorte ELSA-Brasil, acompanhados por mais de 10 anos, revelou que indivíduos com LDL-C abaixo de 100 mg/dL apresentaram 67% mais risco de morte do que aqueles com níveis entre 100 e 130 mg/dL. Esse risco subiu para 127% em pessoas com LDL-C inferior a 70 mg/dL. Os resultados permaneceram consistentes mesmo após ajustes para mortes precoces e fraqueza física.
Curiosamente, o risco de mortalidade ao longo dos níveis de LDL-C seguiu um formato em "U", com o menor risco em torno de 112 mg/dL. Além disso, os níveis mais baixos de LDL-C foram mais prejudiciais para indivíduos acima de 60 anos e estiveram relacionados a maior incidência de mortes por câncer. Já mortes por doenças cardiovasculares foram numericamente menores nesses grupos.
Embora a redução do LDL-C seja eficaz na prevenção de doenças cardiovasculares em alguns casos, o estudo sugere que, em pessoas com diabetes sem alto RCV, níveis extremamente baixos podem não trazer os mesmos benefícios e até aumentar riscos por outras causas. Isso pode refletir mudanças nos padrões de mortalidade ao longo do tempo, com menos mortes cardiovasculares e mais relacionadas a câncer ou infecções.
Mecanismos possíveis para essa associação incluem comprometimento da imunidade antitumoral e maior vulnerabilidade a infecções, pois o LDL-C ajuda a neutralizar toxinas microbianas. Além disso, baixos níveis podem indicar problemas metabólicos ou inflamações subjacentes que elevam o risco de doenças graves.
Os achados ressaltam a necessidade de reconsiderar metas de LDL-C para pessoas com diabetes que não estão em alto risco cardiovascular. Ensaios clínicos futuros devem explorar melhor o impacto desses níveis na mortalidade geral. Até lá, recomendações para reduções intensas de LDL-C devem ser abordadas com cautela, priorizando um equilíbrio entre os benefícios cardiovasculares e os potenciais riscos associados a níveis muito baixos.
Fonte: https://bit.ly/49HgzsS