Durante a preparação para competições, fisiculturistas recorrem a diversas estratégias nutricionais e de treinamento para otimizar a aparência física no palco. Uma dessas práticas é a supercompensação de carboidratos, popularmente conhecida como “carbohydrate loading” ou “carb-loading”. O estudo The effect of a bodybuilding carbohydrate-loading protocol on anthropometry: Preliminary findings from a randomized crossover trial, publicado na revista Nutrition em 2024, teve como objetivo avaliar os efeitos dessa estratégia sobre medidas corporais em fisiculturistas durante a chamada peak week.
Contexto e objetivo do estudo
Fisiculturistas são julgados com base no tamanho muscular e na definição corporal. A supercompensação de carboidratos busca potencializar o volume muscular por meio do aumento das reservas de glicogênio e da retenção associada de água dentro do músculo. Embora amplamente utilizada, há escassez de evidências científicas robustas que validem a eficácia desse método. Este estudo visou preencher parte dessa lacuna ao testar um protocolo de carb-loading em condições que simulassem o contexto real da preparação para uma competição.
Metodologia
O estudo contou com quatro homens praticantes de musculação (idades entre 26 e 40 anos), todos com baixíssima gordura corporal e em dieta de restrição calórica há pelo menos oito semanas. O desenho experimental foi do tipo cruzado e duplo-cego, no qual cada participante passou por duas condições (placebo e carboidrato) separadas por nove dias de washout.
O protocolo incluiu:
- Fase de depleção: três dias de dieta com baixo carboidrato (1-2 g/kg de massa corporal) e treinamento padronizado para esgotar as reservas de glicogênio com o mínimo de dano muscular.
- Fase de supercompensação (carb-loading): ingestão de 9 g/kg de carboidratos na forma de maltodextrina em um único dia.
- Fase placebo: bebida com guar gum para textura e essência de sabor, sem carboidratos.
Foram aferidos peso corporal, espessura de dobras cutâneas e espessura muscular por ultrassom antes e após cada fase.
Principais resultados
Após a fase de depleção, ambos os grupos (carboidrato e placebo) apresentaram reduções no peso corporal e na espessura muscular:
- Peso corporal: redução de 0,5% (carboidrato) e 0,4% (placebo).
- Espessura muscular: redução de 0,8% em ambos.
- Dobra cutânea: redução de 3,3% (carboidrato) e sem alteração (placebo).
Após a fase de supercompensação:
- No grupo carboidrato: aumento de 0,8% no peso corporal, 2,9% na espessura muscular e 1,1% na soma das dobras cutâneas em relação ao pós-depleção.
- No grupo placebo: não houve aumento significativo.
Quando comparados ao estado inicial, os resultados pós-carregamento de carboidratos mostraram um aumento modesto de 0,3% no peso corporal e 2,1% na espessura muscular, enquanto as dobras cutâneas permaneceram 2,3% abaixo do nível inicial.
Discussão e limitações
Embora o estudo tenha mostrado um aumento na espessura muscular e no peso após o carb-loading, os autores ressaltam que essas alterações foram pequenas e possivelmente dentro da margem de erro dos métodos de medição ou das variações biológicas diárias. O impacto real na estética final — parâmetro crucial no julgamento do fisiculturismo — não foi avaliado diretamente. Além disso, a amostra reduzida (apenas quatro participantes) limita a generalização dos achados.
Aplicações práticas
Os autores recomendam cautela na adoção generalizada da supercompensação de carboidratos, sobretudo por atletas menos experientes. A estratégia pode ser melhor aproveitada por fisiculturistas avançados, desde que testada previamente para ajuste individual e para evitar riscos como retenção excessiva de água subcutânea, que pode prejudicar a definição muscular.
Conclusão
O estudo representa um avanço ao aplicar um protocolo realista de carb-loading e utilizar medidas mais precisas, como ultrassom, mas reforça a necessidade de mais pesquisas para confirmar se os benefícios observados são significativos para a performance visual no palco. A individualização da estratégia, com base em testes prévios, permanece essencial para minimizar riscos e maximizar os possíveis ganhos estéticos.