Efeitos da Dieta Cetogênica na Hipertrofia Muscular em Homens e Mulheres Treinados em Força: Revisão Sistemática e Meta-Análise

A dieta cetogênica (DC), caracterizada por uma drástica redução no consumo de carboidratos (geralmente abaixo de 50 g por dia ou menos de 10% do valor calórico total), tem sido amplamente investigada como estratégia para controle de peso, manejo de doenças e melhoria da composição corporal. Entretanto, seus efeitos sobre a hipertrofia muscular em indivíduos treinados em força ainda geravam controvérsias até a publicação do estudo conduzido por Vargas-Molina e colaboradores, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health.

Este trabalho teve como objetivo avaliar, por meio de revisão sistemática e meta-análise, se a dieta cetogênica sem restrição energética programada é eficaz em promover aumentos na massa livre de gordura (MLG) em praticantes de treinamento resistido. O estudo seguiu o protocolo PRISMA para revisões sistemáticas e foi registrado em plataforma oficial (protocols.io).

Para alcançar essa meta, os autores realizaram uma busca abrangente em bases como PubMed, Scopus e Web of Science até março de 2022, utilizando termos relacionados à dieta cetogênica, composição corporal e treinamento de força. Apenas cinco ensaios clínicos randomizados preencheram os critérios rigorosos de inclusão: amostras de indivíduos treinados em força, intervenção mínima de oito semanas, medição da composição corporal por DXA, bioimpedância ou ultrassom, e ausência de suplementação adicional.

No total, 111 participantes (87 homens e 24 mulheres) foram incluídos. O tempo de intervenção variou de 8 a 12 semanas, e as dietas cetogênicas prescritas apresentaram consumo de proteínas entre 1,7 e 2,5 g/kg/dia, com restrição severa de carboidratos. As intervenções de controle seguiam dietas tradicionais com maior proporção de carboidratos.

Os resultados indicaram que não houve diferença estatisticamente significativa na MLG entre os grupos cetogênicos e os grupos controle. A meta-análise mostrou diferença média de −0,57 kg (intervalo de confiança 95%: −3,35 a 2,20 kg) a favor do grupo experimental, mas sem significância estatística. A heterogeneidade entre os estudos foi nula (I² = 0%), sugerindo consistência entre os dados analisados. Quando avaliado o peso total, também não houve diferenças significativas entre os grupos.

A discussão do artigo destacou pontos importantes que podem ter influenciado os resultados. Primeiramente, a dificuldade em gerar superávit calórico com a dieta cetogênica devido ao seu conhecido efeito de saciedade, o que pode limitar a ingestão calórica necessária para promover hipertrofia. Além disso, os métodos de avaliação da MLG (como o DXA) podem ser influenciados por alterações no conteúdo de glicogênio muscular e água corporal, subestimando os ganhos reais em tecido muscular. Outro fator mencionado foi a ausência de correção para o tecido adiposo livre de gordura (presente no tecido adiposo), que pode distorcer os dados da MLG quando há redução significativa de gordura corporal.

Apesar da ausência de superioridade da dieta cetogênica para hipertrofia, os autores reforçam que quando há equidade na ingestão calórica, os resultados entre dietas cetogênicas e dietas tradicionais tendem a ser semelhantes em termos de composição corporal. A adesão prolongada à DC, no entanto, pode ser dificultada pelo efeito de saciedade e pelos sintomas associados à fase inicial da dieta, como a chamada "gripe cetogênica".

Por fim, a pesquisa concluiu que, para ganhos de MLG em indivíduos treinados em força, o fator primordial continua sendo o superávit energético, independentemente do tipo de dieta. A dieta cetogênica pode ser uma opção, mas apresenta limitações práticas para manutenção de um superávit calórico consistente ao longo de períodos prolongados.

Fonte: https://doi.org/10.3390/ijerph191912629

Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: