No cenário do treinamento de resistência e da nutrição esportiva, muitos atletas e praticantes de musculação buscam estratégias que potencializem os ganhos de força e massa muscular. Um dos aspectos frequentemente debatidos é o impacto de diferentes tipos de proteínas suplementares nas respostas hormonais associadas ao exercício. O estudo de Kraemer e colaboradores, publicado no Journal of the American College of Nutrition em 2013, avaliou justamente esse ponto, analisando os efeitos da suplementação com proteína de soja e proteína de soro do leite (whey) nas respostas hormonais agudas ao exercício de resistência em homens treinados.
Objetivo do Estudo
A pesquisa teve como objetivo examinar se a ingestão de proteína de soja, frequentemente associada a compostos fitoestrogênicos (isoflavonas), poderia influenciar negativamente os níveis de testosterona após o exercício. Em contrapartida, os autores avaliaram se a proteína de soro do leite promoveria uma resposta hormonal mais favorável no contexto de um treino de resistência intenso.
Metodologia
Participaram do estudo dez homens jovens, treinados em resistência, com idade média de 21,7 anos. O desenho experimental adotado foi cruzado e randomizado, permitindo que todos os voluntários passassem pelos três tratamentos: 14 dias de suplementação com 20 g/dia de proteína de soro, proteína de soja ou placebo (maltodextrina). Ao final de cada ciclo, os participantes realizaram um protocolo de resistência composto por 6 séries de 10 repetições no agachamento com 80% de 1RM (uma repetição máxima). Amostras sanguíneas foram coletadas em diferentes momentos antes, durante e após o exercício para análise dos níveis de testosterona, cortisol, estradiol e globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG).
Resultados
Os resultados demonstraram diferenças significativas entre os tipos de proteína:
- Testosterona: A suplementação com proteína de soja levou a uma resposta de testosterona atenuada após o exercício em comparação ao whey e ao placebo. Os níveis de testosterona foram menores no grupo da soja entre 5 e 30 minutos após o treino.
- Cortisol: O whey apresentou um efeito benéfico ao atenuar o aumento de cortisol durante a recuperação, um resultado não observado com a soja ou placebo.
- Estradiol: Não foram identificadas diferenças significativas nos níveis de estradiol entre os grupos, sugerindo que a proteína de soja, ao menos no curto prazo e na dosagem utilizada (26,3 mg de isoflavonas/dia), não aumentou este hormônio.
- SHBG: Os níveis dessa globulina não diferiram entre os tratamentos, descartando seu papel como mediador direto das alterações observadas na testosterona.
Conclusão
O estudo reforça a noção de que a suplementação com proteína de soja, mesmo em concentrações moderadas de isoflavonas, pode influenciar negativamente a resposta de testosterona após um treino de resistência em homens treinados. Por outro lado, o whey protein demonstrou um efeito benéfico ao modular o aumento de cortisol durante o período de recuperação. Não foram observadas alterações nos níveis de estradiol, contrariando o receio comum de que a soja possa ter um efeito estrogênico agudo significativo em homens no contexto estudado.
Os autores sugerem que mais pesquisas sejam realizadas para elucidar os mecanismos por trás da atenuação da testosterona pela soja e para investigar possíveis efeitos a longo prazo da suplementação com diferentes fontes de proteína sobre as adaptações ao treinamento de força.
