A dieta cetogênica paleolítica garante níveis séricos adequados de magnésio


A deficiência de magnésio, elemento vital em mais de 300 reações enzimáticas do corpo humano, está fortemente associada a diversas condições patológicas — entre elas, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, aterosclerose e doenças autoimunes. Apesar da ampla divulgação de suplementos de magnésio como solução, a eficácia clínica dessas intervenções isoladas é questionável. Estudos controlados e meta-análises falharam em demonstrar benefícios significativos da suplementação de magnésio no controle glicêmico, na hipertensão e até mesmo na prevenção de cãibras musculares.

Foi nesse contexto que pesquisadores da Hungria — Zsófia Clemens, Andrea Dabóczi e Csaba Tóth — buscaram investigar os efeitos da dieta paleolítica cetogênica (PKD) sobre os níveis séricos de magnésio. A PKD é um modelo alimentar baseado exclusivamente em carnes gordas, vísceras e gordura animal, com exclusão completa de cereais, laticínios, óleos vegetais, leguminosas, frutas, adoçantes e alimentos processados. Em termos de proporção, a dieta apresenta uma razão de gordura:proteína de aproximadamente 2:1 (em peso), e não utiliza nenhum tipo de suplementação mineral ou vitamínica.

O estudo avaliou retrospectivamente 50 indivíduos — 45 pacientes com doenças crônicas e 5 saudáveis — todos com adesão rigorosa à PKD por períodos variando de poucos dias a mais de dois anos. A adesão foi confirmada por meio de exames laboratoriais que incluíam corpos cetônicos urinários, glicemia, hemoglobina glicada e perfil lipídico.

Os resultados foram notáveis: 49 dos 50 participantes apresentaram níveis normais de magnésio sérico (referência: 0,75 a 1,06 mmol/L), com média de 0,86 mmol/L. Apenas um paciente registrou um valor ligeiramente abaixo do intervalo de referência (0,74 mmol/L). Curiosamente, mesmo com uma estimativa de ingestão de magnésio muito inferior às recomendações convencionais — por exemplo, 64 mg/dia num cardápio típico da dieta PKD — os níveis sanguíneos se mantiveram adequados.

A explicação proposta pelos autores vai além da ingestão absoluta de magnésio. A dieta ocidental rica em carboidratos parece promover um deslocamento do magnésio para o interior das células, reduzindo seus níveis séricos. Esse fenômeno seria impulsionado pela própria demanda metabólica da glicólise, processo intensamente dependente de magnésio. Além disso, altas cargas glicêmicas aumentam a excreção urinária de magnésio, agravando a perda. Já a PKD, ao favorecer a oxidação de ácidos graxos — um caminho que requer menos magnésio —, e ao eliminar inibidores de absorção mineral (como fitatos e oxalatos presentes em vegetais), pode naturalmente restabelecer a homeostase do magnésio.

Outro ponto relatado foi a melhora clínica de sintomas frequentemente atribuídos à deficiência de magnésio, como cãibras musculares, que cessaram após o início da PKD e retornavam em casos de transgressão dietética com consumo de frutas ou vegetais.

Por fim, os autores enfatizam que a PKD se diferencia da dieta cetogênica clássica — tradicionalmente usada no tratamento da epilepsia — justamente por não induzir hipomagnesemia, um efeito adverso frequente no modelo cetogênico convencional.

Essas evidências sugerem que a normalização do magnésio não depende apenas da ingestão do mineral, mas do contexto metabólico e dietético em que o organismo está inserido. A dieta paleolítica cetogênica, ao se alinhar ao metabolismo humano evolutivamente adaptado, pode representar uma estratégia alimentar eficaz para restaurar e manter o equilíbrio mineral sem necessidade de suplementação.

Fonte: https://doi.org/10.15310/2334-3591.1070

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